Precisamos rever alguns conceitos já que esse “pra vida toda” dura cada vez mais

Na semana passada saiu uma notícia que os bebes que estão nascendo agora, em 2009, vão viver 100 anos com uma melhor qualidade de vida.

Já imaginaram isso? Com esse aumento da expectativa de vida alguns conceitos deverão ser revistos, o “ para a vida inteira” passa a ter um outro significado.

Tudo bem que a pesquisa está baseada em dados dos países europeus e a nossa realidade ainda é um pouco diferente, mas mesmo que nossos filhos não completem os 100 anos de vida, a expectativa de vida é cada vez maior e esse “pra sempre” dura muito.

Imagina alguém escolher uma profissão da qual não gosta só para agradar alguém? Imagina alguém não gostar do seu trabalho e saber que passará grande parte da sua vida fazendo o que não gosta? Se antes as pessoas trabalhavam no máximo 30 ou 35 anos esse tempo tende a ser mais longo em especial para quem tem um negócio próprio.

Imagina alguém permanecer por tantos anos – talvez por 70 anos – casado com a mesma pessoa? É claro que acontece, mas também não podemos negar que as pessoas se separam muito mais hoje em dia do que no passado.

Esse aumento da expectativa (e qualidade) de vida nos faz pensar em várias possíveis mudanças ..
– cada vez mais, é importante gostar do que se faz
– as carreiras podem ser cíclicas, ou seja, as pessoas podem mudar de profissão
– os casamentos podem ser vários – 1º, 2º, 3º
– se os casamentos podem ser vários, o mesmo vale para os divórcios e por isso é muito importante pensar em uma “blindagem” do patrimônio que evite a pulverização das ações da empresa
– os conflitos entre as gerações na empresa tendem a ser mais complexos, incluindo três ou até quatro gerações
– não dá mais para não pensar, não se preocupar com os relacionamentos interpessoais, cada vez mais é necessário encontrar um equilíbrio entre família, gestão e patrimônio

Como pais e avós temos a opção de não nos preocuparmos com essas questões e deixar que no futuro os membros dessa geração mais nova enfrentem essas mudanças como eles conseguirem ou então podemos ajudá-los, desde já, planejando o que estiver ao nosso alcance.

Nos posts da semana passada escrevi sobre o momento de iniciar o planejamento da sucessão, nos próximos apresentarei algumas formas de como fazer esse planejamento.

Nada de discursos contraditórios!

No post anterior comentei que nunca é cedo para começar a falar sobre trabalho, dinheiro, carreira, sucesso, sucessão …

Uma dica que vale sempre – atenção com as mensagens contraditórias! Cuidado com elas! Alguns pais, empresários, ao mesmo tempo em que desejam que seus filhos possam trabalhar na empresa, querem dar a eles a possibilidade de cursarem qalquer curso de graduação e seguirem uma carreira independente da empresa da família.

alguns jovens se sentem sem saída pois ao mesmo tempo em que seus pais dizem “escolham o curso, a carreira que quiserem” eles dizem, “quando você vier trabalhar na empresa da família …” Costumo dizer que substituir o quando pelo se daria uma maior liberdade para eles escolherem o caminho que realmente querem .

É muito importante que exista um canal de comunicação na família e que as pessoas possam falar sobre o que querem fazer no futuro. Por uma série de razões, esses assuntos são adiados até o momento de preencher a inscrição do vestibular.

Então, para quem tem filhos, em especial no ensino médio, duas dicas: 1) converse com as crianças / adolescentes sobre as carreiras, as profissões, suas expectativas para o futuro deles, o que eles esperam e 2) evite os discursos contraditórios!

Qual é o momento para começar a planejar a sucessão?

Essa é uma pergunta freqüente. As pessoas querem saber qual é o melhor momento de preparar a sucessão e costumo dizer que o momento é agora, independente da idade dos filhos do dono da empresa.

Claro que uma empresa em fase inicial vai ter como desafio sobreviver em um mercado globalizado, super competitivo. Alguns dados mostram que a cada 10 empresas abertas, depois de 5 anos apenas 3 continuam “na ativa”, as outras 7, por motivos vários, encerraram as suas atividades.

Com o passar do tempo, a empresa cresce e surge a necessidade de profissionalizar a empresa. E profissionalizar a empresa não significa contratar profissionais não familiares no mercado de trabalho, mas profissionalizar a gestão da empresa, conseguir delimitar as fronteiras existentes entre família, empresa, colocar a família a serviço da empresa. E nesse cenário, nunca é cedo para começar a planejar a sucessão.

Planejar a sucessão está diretamente relacionado com preparar os sucessores. Atenção, herdeiro e sucessor não são sinônimos! O herdeiro herda a empresa, o sucessor é quem vai dirigi-la, administrá-la. E, é pensando nisso que os pais devem sempre conversar com os seus filhos sobre o negócio.

É importante que as crianças conheçam a empresa e reconheçam que aquele lugar é um lugar de trabalho sério. Muito provavelmente é a empresa da família que garante o sustento dessas pessoas mas os filhos devem saber que não devem tratar a empresa como a galinha dos ovos de ouro, se os membros da família não se relacionarem com a empresa de forma profissional, a tendência é que o negócio não prospere.

Também é importante facilitar o diálogo entre os membros da família … temas como trabalho, dinheiro, carreira , sucesso devem ser discutidos de forma clara e transparente. Os planos para o futuro também não devem ser deixados para o futuro, fazemos planos hoje do que queremos ter ou ser no nosso futuro.

O planejamento da sucessão não é um evento pontual mas uma atitude que deve (ou deveria) ser adotada em todas as famílias que têm uma empresa. Por isso, nunca é cedo para fazer tal planejamento e os temas serão abordados da forma como as crianças e adolescentes puderem compreender.

O que os funcionários acham de trabalhar em empresas familiares?

Na semana passada fiz alguns comentários sobre o que os funcionários pensam sobre trabalhar em empresas familiares e queria continuar com esse assunto, principalmente porque recebi alguns emails falando sobre as muitas desvantagens ….

De fato não podemos negar que em muitas empresas familiares, os filhos (ou qualquer membro da família dona da empresa) podem usufruir de uma série de privilégios e benefícios, simplesmente por serem membros da família; Os seus salários também podem não ser coerentes com a atuação ou responsabilidade.

Conheço histórias como a do filho do dono que foi promovido quando casou, quando nasceu o 1o filho, quando nasceu o 2o filho … a promoção não estava diretamente relacionada com a competência e qualificação mas com o aumento das despesas em casa!

mas essas são situações típicas de empresas que estão a serviço da familia e que, de acordo com muitas pesquisas, é um dificuldador do crescimento e longevidade do negócio.

Muitos funcionários falam, com orgulho, do clima familiar, do relacionamento que existe entre os funcionários e entre eles e do dono da empresa sobretudo nas empresas familiares. Quem já trabalhou em empresas familiares e outras não familiares ressalta a informalidade e a cordialidade das empresas que são controladas por uma família.

E para quem pensa que trabalhar em uma empresa familiar pode significar um pequeno crescimento profissional, isso pode ser verdade em alguns casos mas, para a minha surpresa, conheci várias pessoas que destacam a possibilidade de crescimento em uma empresa familiar!

A proximidade com o dono é uma característica das empresas familiares e, apesar de as vezes ser muito difícil implementar uma idéia nova, quando o funcionário consegue aprovar e implementar uma idéia que dá certo, o reconhecimento é imediato.

Talvez tudo isso seja típico de uma empresa de pequeno ou médio porte mas, os funcionários relacionam essa possibilidade de ser reconhecido pelo seu trabalho e de crescer profissionalmente , com a proximidade com o dono da empresa.

a empresa tem a cara do dono!

Continuando com as percepções que os funcionários têm das empresas familiares …. (são dados da minha pesquisa)

Alguns funcionários ressaltaram que a cultura da empresa tem muito a ver com a figura do lider.

” a empresa era muito centrada no jeito dele (do dono da empresa) de fazer negócio, de premiar, de estimular os funcionários usando critérios que eram dele”

” Lá na empresa não tem preconceito, não tem discriminação, entra gordo, entra negro, entra idoso. Eu acho isso muito legal e acho que é assim porque o dono é muito tranquilo em relação a essas coisas todas. Quando a empresa era menor, ele almoçava com os funcionários, ele tomava café com os funcionários … Se ele tiver que sentar no meio fio para tomar um café com você, ele senta, numa boa.”

Os funcionários relacionam a cultura da empresa com o dono da empresa de uma forma muito positiva, então, em um processo de profissionalização é preciso ter muito cuidado para que a empresa não perca as características de empresa familiar, valorizadas pelos funcionários.

algumas impressões dos funcionários que trabalham em empresas familiares

Nos próximos posts vou trazer algumas impressões de funcionários que trabalham em empresas familiares.

quando fiz a minha pesquisa, fiquei muito surpresa com o que encontrei, com os depoimentos que ouvi. Imaginava que trabalhar em uma empresa familiar seria uma experiência cheia de desvantagens. Como tudo , tem seus pontos fracos e fortes.

Segue o depoimento de um senhor, administrador de empresas, que trabalha há 10 anos em uma empresa familiar que está passando para a 3a geração – filhos e netos do fundador trabalham juntos.

” Eu aprendi muito com essa família … se eu pudesse escreveria um livro sobre eles. Eu nunca tinha visto uma família como essa, nas coisas boas e nas coisas ruins. É uma família muito unida mas a gente nota, politicamente, algumas facções, sabe? Eles podem divergir, podem rivalizar mas, só até o momento em que alguém de fora começar a falar mal deles. É mais ou menos assim, se é pra falar mal, deixa que eu falo! Eles se defendem, com unhas e dentes, quando um estranho tenta criticá-los.
Outra coisa que aprendi é que eles são muito unidos, são batalhadores … eles podem divergir mas eles não fariam mal a um outro membro da família. A gente vê por aí, famílias se degladiando, eles aqui não. Nessa família ninguém vai prejudicar ninguém, puxar o tapete, derrubar o cara, sabe? De jeito nenhum.
Eles sempre se defendem, as vezes eles podem prejudicar o negócio, a empresa mas aqui a família está em primeiro lugar.”

Bom, sobre esse depoimento podemos dizer que …
– Os valores da família, aparecem, ou até modelam, o comportameto dos membros da família na empresa.
– Assim como os valores da família, as rivalidades que surgem no ambiente familiar, podem aparecer no ambiente da empresa.
– Família é, ao mesmo tempo, pertencimento e separação, individualização, ou seja, sou membro dessa família, faço parte desse grupo, mas cada pessoa tem as suas características. Somos um grupo mas podemos ter opiniões diferentes!
– Em algumas famílias, a família é mais importante do que o negócio; em outras, o negócio é mais importante. E o mais interessante é que os membros da família possam estar atentos à família e à empresa, como no movimento de um pêndulo, em alguns momentos o pêndulo tende mais para um lado ou para o outro e o ideal é que as posições não fiquem cristalizadas.

Parabéns a todos os administradores

Hoje, dia 9 de setembro, é o dia dos administradores e eu queria parabenizar todos aqueles que trabalham nas empresas familiares, e que além de administrarem o negócio, precisam lidar com as questões familiares.

se o administrador da empresa é um membro da família enfrentará algumas questões relacionadas com a sua própria família. Se o administrador é alguém que não faz parte da família dona da empresa ele pode se deparar com os problemas de uma outra família que não é a sua … não é uma tarefa fácil, até porque não existe um curso que fale sobre as características e especificidades das empresas familiares!

contribuição e compensação

Já escrevi sobre isso em algum dos artigos mas uma compensação inadequada para a contribuição é uma das principais desvantagens das empresas familiares.

Posso dizer que já vi herdeiro que trabalha muito e não tem salário, aceita trabalhar de graça pois um dia tudo aquilo vai ser dele. Também já encontrei herdeiros que praticamente não trabalham mas têm um salário de executivo, o que mais parece uma mesada paga pela empresa. Salário é salário, mesada é mesada!

Se o dono da empresa quer dar um salário muito alto para um parente, ele pode, mas certamente o profissional que ocupar uma posição equivalente pode se sentir bastante desconfortável. O mais adequado é fazer uma pesquisa no mercado e estar atento aos seus funcionários.

É possivel separar o que é pessoal daquilo que é profissional?

Se pensarmos na relação de “ contem e está contido”, vamos perceber que a vida profissional está contida na nossa vida pessoal, não dá pra separar! Entretanto, cada um de nós divide sua vida em tempo para estar com a família, tempo para trabalhar, tempo para descansar, tempo para viajar … cada um escolhe o que fazer e como dividir o seu tempo da melhor maneira.

Quando as pessoas trabalham com os seus familiares essa separação não é nada fácil. Certamente é possível definir o espaço para estar com a família para lazer e o espaço para o trabalho. É possível definir as regras, os padrões de funcionamento em um ambiente e no outro, mas não é uma tarefa fácil.

Quando a empresa está na geração do fundador parece mais fácil, a hierarquia que vale na família, vale também na empresa. O pai é o patriarca, o chefe da família, e também o dono da empresa. Já em uma empresa de 2ª geração, por exemplo, pode acontecer do irmão mais novo ser o presidente da empresa, o que pode ser considerado uma hierarquia incongruente, já que o filho mais velho viria primeiro em uma escala hierárquica familiar.

Na família, os relacionamentos afetivos estão em primeiro lugar, na empresa o que deveria prevalecer é a relação profissional, a competência e a capacidade dos funcionários (familiares ou não) para fazer o negócio crescer. Contudo, observamos na nossa prática que o nepotismo é uma característica marcante em muitas das empresas familiares e que traz uma série de desvantagens para esse tipo de organização. Nos próximos posts abordaremos algumas dessas desvantagens.

Os agregados foram escolhidos!

Depois do post sobre os desentendimentos em família recebi algumas mensagens sobre o papel dos agregados. Algumas pessoas contaram histórias em que os agregados – as esposas dos sócios – que por acaso eram as cunhadas – haviam sido “ as causadoras de grandes discussões ” em um outro email, as esposas haviam falado tanto do negócio com seus maridos, em casa, que conseguiram fazer com que um irmão ficasse contra o outro.

Na minha compreensão dos fatos, o principal problema está em considerar os cônjuges dos irmãos como “agregados”, na realidade, eles foram “escolhidos” para fazerem parte da família. Essa é uma primeira mudança! Os agregados passam a ser vistos como os escolhidos e assim, merecem todo o respeito dos outros familiares.

Outro ponto, em casa, as pessoas têm o hábito de desabafar com os familiares sobre as dificuldades do dia-a-dia, incluindo aqui as do trabalho, seja em uma empresa familiar ou não. É muito mais fácil falar dos problemas e das dificuldades, pois elas parecem martelar na nossa cabeça. Não falamos sobre tudo de bom que acontece no nosso dia.
Por exemplo, em casa, a gente reclama se o arroz está salgado, se o bife ficou bem passado (quase torrado). Eventualmente a gente elogia mas é muito mais comum criticar do que elogiar e mesmo assim, se o padrão da comida é sempre bom e sempre o mesmo, a gente não vai falar todos os dias!

No trabalho é a mesma coisa, as pessoas têm um padrão de relacionamento, eventualmente acontecem os problemas e é quando sai do padrão que vira assunto. Quem está em casa só sabe do que aconteceu de diferente. São vários erros e acertos, encontros e desencontros, mas a tendência é falar sobre os erros, os desencontros, as dificuldades. Se você é um dos escolhidos e está apenas ouvindo as reclamações e desabafos do seu cônjuge, não leve tudo para o lado pessoal e lembre-se de que ele está te contando, apenas, o que saiu diferente do esperado!