Acontece nas melhores famílias

Depois do último post em que comentei sobre a separação dos irmãos da família Klein (Casas Bahia) recebi alguns emails de pessoas surpresas “As divergência também acontecem nas famílias que controlam grandes e conhecidas empresas?” “eles não conseguiram resolver as divergências na empresa?”

As divergências e os conflitos existem em todas as famílias, sempre! O que caracteriza uma família funcional, capaz de promover saúde emocional e bem estar aos seus membros não é a ausência de conflitos, mas a capacidade de os familiares lidarem com eles. Como cada família enfrenta as suas dificuldades é o que faz a diferença!

Em famílias, donas de empresas, os conflitos existem tanto na esfera pública (na empresa) quanto na esfera privada (na família) e o mais importante é que cada um dos conflitos permaneça na sua própria esfera!

Familiares, principalmente os herdeiros de uma empresa, não se escolheram como sócios. Herdaram o negócio e pode, realmente, acontecer, de serem pessoas muito diferentes, como objetivos diferentes para o negócio, com modelos de gestão tão diferentes (e divergentes) que talvez o mais indicado seja sair da sociedade e preservar os laços afetivos.

É mito achar que não é possível sair de uma sociedade entre irmãos de forma amigável ou então que não é possível vender a empresa para pessoas de fora da família. São possibilidades reais!

Formação dos herdeiros – o que aprendi com a experiência?

Quando falamos sobre a formação dos herdeiros não estamos nos referindo, apenas, à educação formal, aquela adquirida nas escolas e universidades. A educação formal é extremamente importante mas a formação dos herdeiros vai muito além disso!

Ela inclui o conhecimentos teórico, que é transitido e a forma como ele é processado, interpretado e armazenado, mas, também, todo o aprendizado proveniente das experiências de vida. E quais são essas experiências? Depende. Depende, sobretudo do sujeito da ação, de quem as experiencia.

De qualquer forma, podemos dizer que são todas as experiências que deixam marcas, sejam elas marcas positivas ou negativas. Certa vez uma amiga falou “enquanto acontecem sinapses no meu cérebro, estou aprendendo”

Devemos então, refletir sobre “o que aprendi com as experiências que vivi?” Cada pessoa tem uma história, única! E mesmo quando, por exemplo, dois irmãos vivenciam a mesma situação, eles serão marcados de maneiras diferentes. O verbo do momento é o aprender e, independente da idade e do estágio do ciclo de vida, a gente aprende o tempo todo.

Julho – período das férias escolares e de um maior envolvimento com a empresa da família

Mês de julho é o período das férias escolares e, é o momento em que os herdeiros que ainda não trabalham na empresa da família mais se envolvem com o negócio.

Quando as crianças são pequenas, podem não ter com quem ficar e, depois da colônia de férias ou da visita a um amigo, ficam com os seus pais na empresa. Lá eles fazem mil coisas, alguns brincam de trabalhar, outros brincam de qualquer coisa em uma sala mais tranqüila, sem muito movimento; alguns prestam a atenção nos mínimos detalhes já pensando no seu futuro ali dentro. Tem herdeiro que vibra com esse momento, tem herdeiro que acha que não existe nada mais chato do que passar as férias na empresa da família.

É evidente que cada família tem uma visão e cada membro, dentro da mesma família, tem uma percepção diferente da empresa da família.

Posso afirmar que os jovens, universitários, também aproveitam as férias para conhecer um pouco melhor o negócio da família – para alguns, é uma oportunidade que deve ser agarrada a unhas e dentes, para outros um sacrifício. De qualquer forma, é uma experiência. Experiência para saber se você deseja trabalhar com a sua família, como é o trabalho com pessoas tão próximas, ou para ter argumentos que servirão de justificativas para o desejo de trilhar outros caminhos.

Dependendo da situação financeira da família, o jovem pode escolher trabalhar com os seus familiares ou aproveitar para aprimorar a sua formação / preparação Muitos dos meus alunos e ex alunos partem para os “work experiences”, um tipo de intercambio em que eles trabalham em estações de esqui, em hotéis ou parques de diversões em outros países.

Quando os pais me perguntam se é uma boa experiência … Bom, toda experiência é boa, é válida, mas depende muito da expectativa depositada em tal experiência. Pode servir para mostrar aos pais que seu filho não é tão indefeso quanto eles poderiam imaginar, ele é capaz de viver em outro país, sem seus pais! Pode ser útil para aprender uma língua diferente, conhecer uma cultura diferente.

Grupo de herdeiros

A cada dia estou mais convencida da necessidade e da importância de organizar grupos de reflexão com herdeiros de empresas familiares, já que eles vivem situações muito parecidas e não sabem a quem recorrer, com quem conversar …

As discussões que surgem nas salas de aula, nas palestras e nos workshops são muito parecidas com as questões das famílias que acompanho em consultoria ou no consultório (como terapeuta de família) e, principalmente os jovens, se sentem solitários na sua trajetória profissional na empresa da família. São temas relacionados com a escolha da carreira, com a entrada na empresa, o momento e a forma mais adequados para entrar na empresa familiar, como se relacionar com os familiares em um ambiente que não é a casa, como lidar com os conflitos de geração, com os processos de tomada de decisão, entre outros.

Curiosamente, apesar de o cenário mundial já ter mudado e um número significativo de alunos dos cursos de administração ser herdeiro de empresas familiares, os cursos de graduação formam profissionais para trabalhar em grandes empresas e, o tema das empresas familiares quase não é mencionado.

Não sei explicar as razões pelas quais o aluno não tem acesso às informações que ele precisa, mas, posso garantir que essa divergência entre o que ele precisa e o que ele recebe faz com que, “nos bastidores”, os alunos busquem, entre os seus pares, aqueles que vivenciam experiências parecidas com as suas.

Em função dessa carência, estarei promovendo, a partir de setembro, um espaço para que herdeiros possam compartilhar suas experiências, aprender e ensinar e, ainda formar uma rede de contatos. O grupo acontecerá com encontros presenciais na cidade do Rio de Janeiro e, poderá ter como desdobramento um grupo de discussão virtual (fórum) para incluir participantes de outras cidades e estados.

Quem tiver interesse em participar, pode enviar um email para contato@portaltudoemfamilia.com.br

Porque algumas famílias “rompem” seus laços afetivos?

Depois dos posts anteriores – o que escrevi sobre a possibilidade de preservar o patrimônio familiar sem destruir os laços afetivos e o que eu trouxe dois exemplos de famílias em que o dia a dia no trabalho parecia ser mais importante do que o relacionamento familiar e social – recebi algumas mensagens com diversas histórias de rompimentos familiares decorrentes, principalmente, de desentendimentos nos negócios.

De fato, todo mudo tem uma história para contar. A mídia nacional também já noticiou algumas brigas de família que acabaram levando empresas à falência, mas por que isso acontece com tanta freqüência? O que faz com que as pessoas briguem com os seus familiares?

Geralmente as brigas e rompimentos acontecem a partir da 2ª geração dos dirigentes, ou seja, quando os filhos do fundador são os responsáveis pelo negócio … Agora, várias pessoas são os “donos do negócio” e nem sempre é fácil tomar uma decisão que seja do agrado de todos. Provavelmente, nos trabalhos em equipe – e uma empresa com vários sócios com igual participação pode ser comparada com uma equipe – nem todos pensam da mesma forma e para que se chegue a uma decisão é importante que, mesmo quem pensa diferente, diga “ok, acho que posso conviver com essa decisão” ou “Não penso dessa forma, mas vocês trouxeram argumentos tão coerentes que posso aceitar essa decisão!”

Entretanto, muitas vezes, apoiar a decisão de alguém pode significar preferir essa ou aquela pessoa e, a velha rivalidade fraterna, conhecida por todos, surge de forma inconsciente (sem que os membros da família percebam) e ela pode minar o relacionamento entre irmãos e, prejudicar a produtividade da empresa.

Quando pai e filhos trabalham juntos pode acontecer ( e acontece com muita freqüência) dos filhos terem opiniões divergentes mas quem decide é o pai, o dono do negócio ou porque é ele quem manda, ou em respeito ao patriarca da família ou para evitar os tais desentendimentos na família.

Outro desencadeador de sérias brigas entre familiares é perceber que a empresa tinha condições de manter o padrão financeiro da família e, de uma hora para outra isso não é possível, até porque, o fato das contas não fecharem traz uma grande desconfiança … “Provavelmente tem alguém roubando!”

Se pensarmos em uma família em que os pais têm uma empresa e eles tiveram 3 filhos que também foram trabalhar na empresa. Com o tempo, esses filhos casam, cada um constrói a sua família, e a empresa que sustentava uma família com 5 pessoas, agora é a responsável pelo sustento de quatro família – a família do fundador e a família de cada um dos três filhos. Mesmo que o país cresça, que os negócios prosperem e que essa empresa seja bastante competitiva, a família cresce em progressão geométrica, ou seja, em um ritmo muito mais acelerado.

Esses dois talvez sejam os motivos mais comuns seguidos ainda pela falta de diálogo que pode causar uma série de dificuldades relacionais.

Quando a maior preocupação é com a empresa

Acompanhei algumas famílias donas de empresas que privilegiavam sobretudo a empresa e faziam dos encotros em família eventos cada vez mais raros. Vou contar dois casos ….

A 1a era uma empresa que havia sido fundada pelo pai de 4 filhos (3 homens e uma mulher) . Os cinco (pai e filhos) trabalhavam na empresa e, principalmente, os irmãos não faziam questão de manter os encontros de finais de semana. Os irmãos eram casados, com filhos e os primos se encontravam apenas nas datas festivas.

Para os avós, esse era um motivo de arrependimento … será que vale a pena trabalhar em família e os primos mal se conhecerem?
As esposas também se ressentiam desse contato pouco frequente no tempo livre. A filha, que também trabalhava na empresa, era a responsável por organizar alguns encontros extra-oficiais (que não fossem os aniversários, casamentos, dia das mães, dia dos pais) para que eles convivessem um pouco mais em família e pudessem acompanhar o crescimento das crianças.

Na outra família, a empresa já estava sendo administrada pela 3a geração, ou seja, tinha sido fundada pelo avô dos atuais diretores, há quase 100 anos, e como a família havia crescido bastante, cada um dos filhos do fundador organizava as festas para os seus familiares diretos.

É uma família grande – 6 filhos – hoje esses 6 filhos já tem, inclusive, os seus filhos e netos e, eles quase não se encontram.
De acordo com um dos diretores, eles só se encontram quando alguém casa ou então quando morre alguém da família.

Pode parecer que essas famílias sacrificam o convívio em família pelo sucesso das suas empresas mas, essa é apenas uma percepção. Como escrevo contantemente nos posts, quando falamos em padrão de funcionamento das empresas familiares, não existe certo ou errado, existe o modelo mais adequado para cada família.

É possível preservar o patrimônio sem destruir os laços afetivos?

O título desse post me acompanhou por muito tempo, foi tema de palestras e chegou a ser, mesmo que por poucos meses, o título da minha tese de doutorado. Entretanto, percebi que as pessoas esperavam um Não como resposta e como acredito que realmente seja possível, dei um outro nome à minha pesquisa

A gente pode pensar na empresa familiar como uma balança em que em um prato temos a família que tem a empresa e no outro a empresa onde trabalham membros da família, se a tendência é o prato pesar sempre para um dos lados, o negócio pode não ser bem sucedido.

Evidentemente que em um momento de dificuldades na empresa – por exemplo, a perda de um importante cliente, ou a mudança de determinada legislação (que traga impacto para o negócio), a família pode ficar muito mais voltada para a empresa; da mesma forma que em um momento difícil na família como, por exemplo, a morte de um parente, a tendência é que as pessoas estejam muito mais envolvidas com a família.

Esse movimento – quase como uma gangorra – que em um momento é a família que está em evidência, em outro é a empresa- não é negativo, pelo contrário, é muito natural. Talvez a melhor metáfora seja a do pêndulo em que ora pende mais para um lado, ora pende mais para o outro mas o importante é que se encontre um equilíbrio, equilíbrio esse que vai variar em cada família, e cada negócio, não existe um modelo único.

Mas, se existe uma fórmula mágica para que o negócio entre familiares prospere é ter em mente que quando a família está à serviço da empresa e não a empresa à serviço da família, a empresa familiar pode ser um excelente negócio para todos os envolvidos.

Quais são os valores da minha família?

Depois do post anterior recebi algumas mensagens de pais preocupados com o que eu havia escrito “Como assim, transmito mensagens diferentes daquelas que eu gostaria! Meus filhos herdarão o que eu não gostaria que eles herdassem?”

Vou explicar melhor, com alguns casos ….

Em uma família de classe média, os pais sempre trabalharam muito, muitas horas por dia, sete dias por semana e tudo o que conseguiram foi com muito sacrifício e viviam na maior insegurança mas, com todo esforço e dedicação, proporcionaram uma excelente educação (boas escolas, faculdade e até pós-graduação) aos seus filhos. Esses pais transmitiram a idéia de que é importante trabalhar duro para colher bons frutos e no fundo eles gostaria que seus filhos tivessem uma vida mais estável, segura, sem os altos e baixos de ter um próprio negócio. Talvez eles (os pais) se sentiriam mais confortáveis se seus filhos fizessem um concurso público.

Um outro caso, uma família, também de classe média, em que os filhos não querem trabalhar na empresa do pai. É bastante compreensível a decisão desse filhos que cresceram ouvindo o pai falar das dificuldades de ser empresário. Se o pai chega em casa cansado, chateado e frequentemente diz que “esse negócio só me dá dor de cabeça” “faz o cabelo cair” ou “faz nascer mais cabelos branco”, saudável é o filho que deseja um caminho diferente!

Um outro caso interessante era de uma família em que o único filho homem, quem, na imaginação dos pais, deveria dar continuidade aos negócios da família, optou por abrir um novo negócio. Nessa família o valor estava em abrir um caminho novo, descobrir um novo negócio e começar do zero.

Você já parou para pensar sobre quais são os valores que seus filhos herdarão? Qual é a cultura dessa família? quais são os valores? mais importante do que pensar sobre isso é conversar sobre os desejos e expectativas de cada um

O que aprendi lá em casa?

Nos últimos posts falei sobre o evento Minha família tem uma empresa – alguns dos dilemas enfrentados pelos herdeiros de empresas familiares, realizado na PUC-Rio

Muito tem se falado sobre os herdeiros – quem é herdeiros? quem vai herdar o que? quanto do negócio cada um dos herdeiros deve receber? mas quase não se fala sobre o que pode ser considerado a principal herança – os valores da famílias! O que aprendi lá em casa?

os filhos são herdeiros, sobretudo, dos valores que são transmitidos na família, de uma geração para outra. Geralmente eles são transmitidos através das nossas atitudes e nem percebemos.

Quais são os valores da sua família? Quais são os valores que você gostaria de transmitir para os seus filhos? Os valores que aprendemos em casa são os norteadores das nossas ações, são as nossas crenças e premissas a partir das quais fazemos as nossas escolhas.

Vale a pena dedicar algum tempo para pensar no assunto!

A herdeira que foi convidada para trabalhar na empresa da família

Ainda sobre o evento do dia 19/06.

Minha amiga Carolina falou sobre o processo de entrada na empresa da sua família, e a possibilidade de empreender algo novo a partir do negócio da família … esse era o seu tema e além de abordá-lo de forma clara e vibrante trouxe outros dados super interessantes.

Ela se formou em Psicologia, teve uma boa experiência profissional até que um dia foi convidada para fazer parte da empresa. Na família dela é assim, você precisa ser convidado!

Enquanto trabalhou na empresa foi muito bem recebida por todos e, para a surpresa de muitos dos particpantes do evento, ela contou que nunca se sentiu como a filha do dono. (Ser visto como filho do dono é uma das grandes desvantagens para a maioria dos herdeiros que trabalham na empresa da família!)

Quando nasceu o seu 1o filho, ela se deu uma licença maternidade mais demorada. Trabalhava de casa! Quando nasceu o 2o filho ela já não se sentia tão entusiasmada com o negócio e ficou 18 meses em casa!

Essa é uma das grandes vantagens de ser herdeira de uma empresa familiar. Você pode sair da empresa e sabe que quando quiser, ou quando você tiver disponibilidade, você poderá voltar. Talvez não volte para o mesmo cargo, não volte para a mesma função nem com o mesmo salário mas “o mercado te aceita de volta”. Cada família vai reagir de uma forma a essa situação, mas, com muita frequencia, a mulher pode voltar.

Carolina contou que nesse tempo que ficou afastada quis fazer outras coisas, deu um outro direcionamento à sua carreira e, conversou com o seu pai sobre a possibilidade de deixar a sua marca … hoje ela é responsável por um novo serviço.

Algumas pessoas (Herdeiros) dizem que não querem entrar no negócio da família porque não se interessam pela atiividade (isso para mim ainda é um mistério, não consigo entender!), outras porque preferem empreender, outras porque não querem se ver obrigadas a seguirem o caminho de seus pais … mas são tantas as possibilidades! O importante é que cada família encontre o seu formato ideal.

Os dois depoimentos apresentados no evento trazem histórias diferentes, não devem ser considerados como modelos a serem seguidos mas podem funcionar como inspirações!