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O impacto do trabalho remoto na vida das famílias

Bom, apesar de não ser um tema “original”, eu gostaria de dividir com vocês algumas reflexões sobre o impacto do trabalho remoto na vida das famílias. Eu escrevi este texto em agosto de 2020, depois de uma live , aqueles bate papos organizados no aplicativo Instagram que ficaram na moda durante o isolamento social.

As famílias estão sempre se adaptando às tarefas e desafios de cada nova fase e esses meses de pandemia, home office, didática a distância estão sendo de muita negociação e muitos ajustes em casa!

O mundo parou! As escolas fecharam, as pessoas passaram a trabalhar de casa, ninguém podia sair de casa, a não ser para motivos de extrema necessidade. A COVID 19 exigiu uma reorganização na vida das pessoas no mundo inteiro.

Impactos na organização do espaço

Os filhos estudam em casa. Os pais trabalham em casa.

Certamente as famílias tiveram que improvisar um espaço de trabalho / estudo.

Ainda não se sabe quando as escolas voltarão ao ensino presencial e muitas empresas vão continuar com o trabalho remoto por mais um bom tempo, as pessoas tiveram que organizar o espaço e a infraestrutura – internet de qualidade e com muitos gigas, iluminação adequada, mesas e cadeiras ergonômicas. Algumas famílias puderam investir nisso, outras continuam na improvisação.

Abrindo um parêntese aqui, estou me referindo às famílias que podem se dar ao luxo disso tudo pois, infelizmente, ainda vivemos num mundo desigual –em muitas famílias – os pais que perderam seus empregos, as pessoas moram em espaços pequenos sem computadores, sem internet, as crianças que perderam além do espaço de socialização, as merendas/refeições.

Contudo os impactos vão além desses já descritos e podem ser classificados em pontos positivos / vantagens e negativos / desvantagens

Vantagens do trabalho remoto para a vida em família

– As pessoas não gastam tempo no deslocamento (e no trânsito) e consequentemente têm mais tempo em casa. Os pais que passavam o dia fora, agora podem acompanhar o dia a dia dos filhos de pertinho.

– As refeições estão mais saudáveis, preparadas em casa, e são feitas com a família.

– Existe uma maior proximidade entre as pessoas que já moravam na mesma casa, pois agora a convivência é 24 horas, 7 dias na semana.

Mas como toda moeda tem dois lados, essas vantagens também podem ser desvantagens.

Desvantagens

– Trabalhar em casa exige muita disciplina e muita concentração e respeito de limites – é importante criar uma rotina, definir as tarefas / atividades do dia. Não é porque você está trabalhando de casa que precisa trabalhar muito mais horas.

– as crianças estudando em casa, muitas vezes precisam da ajuda dos pais com computador, a impressora e com os deveres de casa. Além disso, eles precisam comer – café da manha, almoço, jantar e vários lanchinhos / merendas entre as refeições. Alguém precisa prepará-las.

– acúmulo de funções e papéis. Os pais se viram com uma enorme sobrecarga de trabalho e, em muitos lares ainda são as mulheres as responsáveis pela casa e pelas crianças, mesmo quando elas trabalham fora. Se não dá pra fazer tudo, faça tudo o que puder fazer. Quem trabalha no escritório, fora de casa, sai do seu ambiente de trabalho para almoçar, quem trabalha em casa, precisa preparar a comida  e quem tem filhos precisa preparar as refeições adequadas para as crianças.

– a proximidade entre as pessoas traz mais amor, mais brigas, mais intimidade. Alguns casais casados há anos, estão se conhecendo agora. Infelizmente o número de casos de violência domestica aumentou no mundo inteiro.

Infância e adolescência

Depois de todo esse tempo sem escola, sem contato com os amigos penso no impacto disso tudo na vida

das crianças e adolescentes.  Se no início eles ficaram felizes com a suspensão das aulas, tenho certeza de que estão morrendo de saudades das escolas, de estar com os amigos. É um período de descoberta e de muitas aprendizagens que foi interrompido. Certamente, eles perderam muito com tudo isso.

Muitas crianças já manisfestaram e verbalizaram seus medos e ansiedades. Os que não conseguiram expressá-los em palavras, podem apresentá-los em sintomas variados – agressividade em casa, pesadelos recorrentes ou então faz xixi na cama, desenvolve uma gagueira .

Pets e hobbies

O sentimento de estar sozinho em casa fez com que muitas famílias adotassem um animal de estimação fenômeno percebido em vários países. Se antes as pessoas se queixavam da falta de tempo livre para se dedicar aos hobbies, durante a quarentena, muitos se dedicaram aos cursos on line, de temas mais variados, à arrumação da casa e aos velhos e novos hobbies -meditação, leitura, culinária, organização etc.

O que vai ficar dessa experiência?

Temos que esperar para saber, mas eu apostaria em algumas hipóteses.

– No Brasil, as pessoas vão precisar menos de empregadas domesticas e diaristas. As famílias passaram muito tempo sem ajuda e viram que é possível se virar sozinhos e no final do mês sobra um dinheiro para o lazer ou para colocar no “fundo viagem”.

– O trabalho remoto, desejo antigo de muitos trabalhadores, surgiu de improviso, pois as empresas ainda não estavam preparadas, veio para ficar. E as empresas precisam ainda ajudar seus funcionários a lidar com o home office sem tanto estresse.

– Os serviços de entregas / delivery que já existiam, ganharam ainda mais força

– Acredito que com a possibilidade do trabalho remoto e dos serviços de delivery cada vez mais abrangentes, as exigências para a compra de um apartamento ou para a escolha do carro vão mudar.

Para quem trabalha em casa vai ser mais importante ter um apartamento confortável do que morar perto do trabalho ou do transporte. Se você não passa mais tantas horas do dia no deslocamento, não precisa ter um carro luxuoso com altos custos de manutenção, nem o segundo carro da família.

Qual é a sua opinião sobre tudo isso?

Empresas familiares tendem a ser mais lucrativas que às suas equivalentes não familiares

O Credit Suisse,  fez uma pesquisa com as empresas familiares negociadas na bolsa de valores e trouxe dados super interessantes.

Foram avaliados:

  1. resultados de longo prazo
  2. desempenho durante a pandemia
  3. alinhamento com critérios sustentáveis ESG

Antes de entrar na pesquisa em si, quero trazer algumas informações sobre o ESG, de forma bem simples

ESG é um conceito antigo que vem ganhando muita força no mercado de investimento. 

Environmental Social e Governance

Se antes os investidores se preocupavam apenas com a performance financeira das empresas, hoje eles buscam investimentos sustentáveis ou socialmente responsáveis e é  por isso que este conceito está ganhando força agora.

É importante considerarmos o mundo de forma sistêmica – não dá pra negar a interdependência  entre os negócios, as pessoas e o ambiente em que isso acontece.

O ESG é um indicador utilizado para avaliar uma empresa em relação a sua governança e seus  impactos diretos e indiretos no ambiente e na sociedade. Em portugues podemos encontrar a expressão ASG de ambiental, social e governança.

  • Environmental  / Ambiental – envolve questões como:  (1) emissão de CO2 e mudanças climáticas, (2) crescimento da população, (3) biodiversidade, (4) segurança alimentar etc
  • Social – envolve questões como: (1) direitos humanos, (2) condições de trabalho, (3) trabalho infantil e (4) igualdade
  • Governança-  (1) qualidade e diversidade do conselho de administração, (2) melhores práticas de governança, (3) Remuneração, (4) direito dos acionistas.  Ou seja, se a empresa adota as melhores práticas de governança corporativa, como ter conselhos , praticar a transparência na prestação de contas, combater a corrupção e priorizar a ética.

Os dados do Credit Suisse indicam que as empresas com índices elevados de ESG apresentam performance melhores e maior resiliência. Veja aqui.

O Itaú publicou um relatório  recentemente mostrando que as empresas que adotam as melhores práticas ambientais, sociais e de governança conseguem aumentar a sua receita, reduzir custos, reduzir problemas legais, aumentar a produtividade e ainda otimizar seus investimentos. E assim, conseguem dar um melhor retorno financeiro aos seus investidores.  

Algumas razões que estão levando as empresas a se preocuparem com esse indicador: (1) os consumidores têm preferido cada vez mais produtos e serviços que se preocupam com o impacto ambiental; (2) existe uma consciência inquestionável de que ‘é importante reduzir (ou minimizar) a todo custo as mudanças climáticas; (3) existe uma cultura, também inquestionável de reduzir os desperdícios  em todos os sentidos ; (4) a capacidade de unir sustentabilidade econômica e a socioambiental tem sido cada vez mais valorizada por consumidores e investidores; e, para finalizar, (5) o surgimento de normativas que exigem uma maior responsabilidade das empresas pelos impactos causados por seus produtos e serviços.

Sobre a pesquisa The Family 1000

Foi analisado o banco de dados com com 1061 empresas , metade estão na Ásia 49%  e 2% no Japão, 24% na Europa, 14% na América do Norte 6% (63) na América Latina- destas 2 brasileiras e muito bem conceituadas / pontuadas no índice ESG – MRV e Sulamérica

Das  empresas analisadas, cerca de 250 tem até 25 anos, 350 tem entre 25 e 50 anos , 200 tem entre 50 e 75 anos , 100 tem entre 75 e 100 e 150 tem mais de 100 anos de atividade.

Também foi realizada uma pesquisa qualitativa com 145 empresas familiares e 124 não familiares para investigar o impacto da pandemia da covid 19.

Desde 2006 as empresas familiares têm dado retorno para os acionistas acima dos demais ( das empresas não familiares), sendo os maiores retornos na Ásia e Pacifico e os menores na América do Norte.

Alguns resultados

  • as empresas em que os fundadores tocam os negócios são mais alinhadas com os critérios sustentáveis ESG, em comparação às outras empresas.
  • as empresas familiares têm visão de mais longo prazo para os investimentos do negócio
  • as empresas familiares apresentam desempenho financeiro e lucro melhores durante a pandemia do COVID

A pandemia teve um impacto importante nos rendimentos e na volatilidade do mercado acionário. Contudo, as empresas familiares demonstraram sinais de maior resiliência durante a pandemia.

  • As empresas administradas / controladas por famílias tendem a ser mais defensivas e suportar melhor os momentos de dificuldade

as empresas familiares são mais atentas a sustentabilidade e obtém na média, score ligeiramente mais alto de ESG que as não familiares – na média pois no quesito governança ainda ficam atrás das empresas não familiares

O gráfico abaixo mostra isso

https://www.credit-suisse.com/about-us-news/en/articles/media-releases/family-owned-businesses-show-resilience-through-pandemic-202009.html

 

Você já conhecia esse conceito do ESG?

Você imaginava que as empresas familiares podem ser mais lucrativas do que as nao familiares?

A força da inovação e do trabalho em conjunto no processo de sucessão

Sucessão é  mudança

Muitas pessoas discordam dessa afirmação mas hoje eu trouxe dois exemplos  – do Magazine Luiza, gigante no cenário brasileiro e que dispensa apresentações e de uma pequena empresa de consultoria italiana

A Magazine Luiza, está entre as 500 maiores empresas familiares do mundo, em um lista com apenas 12 empresas brasileiras. Frederico Trajano que hoje é o CEO da holding  é filho da Luiza Helena Trajano que é  sobrinha da fundadora Luiza Trajano Donato. Hoje a empresa está na 3a geração.

Frederico Trajano entrou na empresa da família em 2000, com a responsabilidade de trabalhar na área de comércio eletrônico. Vale dizer que a 1a loja virtual da Magazine Luiza entrou no ar em 1999. De 2000 até 2016, quando assumiu o lugar de CEO da holding, Frederico trabalhou em diversas ‘áreas

É  uma história de continuidade com muitas mudanças. A magazine Luiza nasceu como uma pequena loja de presentes em Franca (SP)  e hoje está presente em todo o Brasil oferecendo cada vez mais produtos para as famílias brasileiras. Talvez seu maior concorrente seja a Amazon, empresa que já nasceu digital.

Já a pequena empresa de consultoria italiana se chama Pugni Malago formada por Paolo Pugni e sua esposa Franca Malago em 1995. As empresas de consultoria estão entre os casos de empresas familiares em que a sucessão para a geração seguinte exige muito conhecimento, o business é  o conhecimento dos empreendedores / fundadores.

O casal trabalha com consultoria de vendas desde sempre. O setor de vendas hoje eh muito diferente daquele de 25 anos atrás, já mudou muito e continua mudando. Se no passado as empresas investiam dias em treinamento da sua força de vendas em seminários, convenções em hotéis, talvez hoje seja mais importante investir no pré venda, por exemplo Partindo da premissa que todos os produtos são de excelente qualidade, ninguém abre mão disso, o que vai fazer o seu cliente comprar de você e não do seu concorrente?

Em 2015 Paolo criou um canal no youtube, onde todos os dias falava com o seu cliente. Com o tempo ele viu que precisava de alguém para ajudá-lo na produção desses que são chamados produtos digitais – vídeos, podcasts, conteúdo para redes sociais, etc.  “Já que tinha que pagar para alguém, convidou o filho e depois o genro”

A empresa continua ensinando aos seus clintes como vender e aos poucos essa atividade, desenvolvida pela geração mais nova está ganhando força. A geração mais nova, entrou na empresa da família (dos pais) oferecendo uma ferramenta (tecnologia, desenvolvimento de produtos digitais) que está se transformando em um novo negócio da empresa.

Nos dois casos, a geração seguinte trouxe, para a empresa da família, conhecimento e competência necessários `a empresa

Sucessão exige o trabalho em conjunto das duas gerações

Mas, ao mesmo tempo que sucessão significa mudança, é  um processo que exige o trabalho em conjunto das duas gerações

No caso da Magazine Luiza , é  importante crescer, entrar no mundo digital mas as lojas físicas devem continuar existindo, não pode faltar o calor humano. Esse é  um valor da empresa, é  um propósito que não deve ser perdido de vista.

Muito provavelmente este valor já fazia parte da empresa, não precisava de ninguém para protegê-lo. Conheço da história da empresa o que é  publicado nos jornais e revistas mas já vi casos em que a euforia da geração mais nova transformou o negócio da família e passou por cima de alguns valores que eram importantes para os fundadores mas não para os sucessores.

Já no caso da empresa de consultoria italiana, a geração mais nova aprendeu com a geração mais velha a forma de contar a história, quais são os pontos que devem ser valorizados, o que é importante ser transmitidos para que os seus clientes comprem de você e não dos seus concorrentes. Aos pouco a geração mais nova aprende o que é  importante para a produção do conteúdo.

O core business da consultoria era ajudar seus clientes a venderem mais ou melhor e quando a geração mais nova ingressou na empresa, com o objetivo de apresentar esse produto, ou esse conhecimento de uma forma mais adequada às exigências do mercado, a família descobriu um novo negócio.

Dica importante: “Não evite conversas difíceis”

Muitas situações de estresse são causadas porque as pessoas evitam alguns temas importantes. E, muitos dos problemas de relacionamento são causados por dificuldades de comunicação.

Por exemplo, quando a pessoa evita uma conversa, ou um tema delicado, ela comunica que não quer falar sobre aquilo. A comunicação franca, clara e transparente é muito importante em todos os relacionamentos humanos e nas empresas familiares, é fundamental que os membros da família falem sobre seus desejos, suas aspirações e objetivos e, também sobre as expectativas que os pais têm para os seus filhos.

Quando as expectativas são diferentes, as conversas se tornam ainda mais necessárias, pois elas são capazes de:
(i) reduzir os conflitos entre os membros da família,
(ii) promover uma maior cooperação entre sêniores e juniores (pais e filhos) que vão trabalhar juntos pelo alcance de um objetivo comum; e
(iii) criar uma harmonia entre tradição e inovação, sobretudo, quando e se os propósitos, interesses e ideais das diferentes gerações estiverem alinhados.

No trabalho com gerações diferentes (pais e filhos) e /ou com pares (no caso de casais ou irmãos) que trabalham juntos, pode haver a polarização do tema e das ideias.

 

 

A  figura mostra que “quando um está certo o outro não está necessariamente errado”. Conversar sobre pontos de vistas diferentes pode apresentar uma nova solução que satisfaça às partes envolvidas.

A maior parte do meu trabalho com as famílias tem sido como facilitadora das conversas difíceis com o objetivo de descobrir ou construir o sonho compartilhado pela família.

Se você estiver evitando um tema difícil e quiser trocar uma ideia comigo, envie um email. Muitas vezes, a solução é bem mais simples do que você imagina.

“Pai rico, filho nobre e neto pobre”

Por Carla Bottino

A cada 100 empresas familiares fundadas no Brasil e no mundo apenas 30 passam para a 2ª geração, dessas, 15 passam para a 3ª e 4 passam para a 4ª geração (HSM Management, 2003). Parece que vai ficando mais fácil e que o difícil mesmo é passar da 1ª para a 2ª geração e, as razões são várias.

Existe um ditado popular que comprova ou reforça a crença de que empresa familiar não vai dar certo por muito tempo e diz o seguinte “Pai rico, filho nobre e neto pobre.” E esse ditado existe em várias línguas.

Brasil – “Pai rico, filho nobre e neto pobre”.

Inglaterra – “Shirtsleeves to shirtsleeves in three generations” (De mangas de camisa a mangas de camisa em 3 gerações)

Itália – “Dalle stalle alle stelle alle stalle” (dos estábulos, às estrelas, aos estábulos em três gerações).
México – “Padre bodeguero; hijo millionario; nieto pordiosero” (pai comerciante, filho milionário, neto mendigo)

China – “De tamancos a tamancos em três gerações” e “Fu bu guo san daí” (as riquezas nunca se mantêm por três gerações)

Apesar desse ditado existir em vários países, ele é mais um mito que cerca as empresas familiares. O neto pobre é uma possibilidade que pode estar relacionada com uma formação acadêmica e profissional inadequada. As organizações Globo, os grupos Votorantin e Pão de Açúcar demonstram uma não ligação entre fundador rico e 3ª geração pobre.

Essa trajetória do pai rico, filho nobre e neto pobre pode ser conseqüência de uma formação não adequada dos herdeiros, pode estar relacionada com conflitos familiares ou até com problemas do mercado, pois, se o fundador tem uma idéia, consegue implementá-la e ela é aceita, sua empresa cresce, mas se ele não inovar, sua empresa pode quebrar. As empresas familiares duradouras são aquelas que inovam já que os ciclos de vida dos produtos estão cada vez mais curtos.

Qual é o momento para começar a planejar a sucessão?

Por Carla Bottino

Essa é uma pergunta freqüente. As pessoas querem saber qual é o melhor momento para preparar a sucessão, e costumo dizer que o momento é agora, independente da idade dos filhos do dono da empresa.

Claro que uma empresa em fase inicial vai ter como desafio sobreviver em um mercado globalizado, super competitivo. Alguns dados mostram que a cada 10 empresas abertas, depois de 5 anos apenas 3 continuam “na ativa”, as outras 7, por motivos vários, encerraram as suas atividades.

Com o passar do tempo, a empresa cresce e surge a necessidade de profissionalizar a empresa. E profissionalizar a empresa não significa contratar profissionais não familiares no mercado de trabalho, mas profissionalizar a gestão da empresa, conseguir delimitar as fronteiras existentes entre família e empresa e colocar a família a serviço da empresa. E nesse cenário, nunca é cedo para começar a planejar a sucessão.

Planejar a sucessão está diretamente relacionado com preparar os sucessores. Atenção, herdeiro e sucessor não são sinônimos! O herdeiro é quem vai herdar a empresa, o sucessor é quem vai dirigi-la, administrá-la. E, é pensando nisso que os pais devem sempre conversar com os seus filhos sobre o negócio.

É importante que as crianças conheçam a empresa e reconheçam que aquele lugar é um lugar de trabalho sério. Muito provavelmente é a empresa da família que garante o sustento dessas pessoas, mas os filhos devem saber que não devem tratar a empresa como a galinha dos ovos de ouro, se os membros da família não se relacionarem com a empresa de forma profissional, a tendência é que o negócio não prospere.

Também é importante facilitar o diálogo entre os membros da família. Temas como trabalho, dinheiro, carreira e sucesso devem ser discutidos de forma clara e transparente. Os planos para o futuro também não devem ser deixados para o futuro, fazemos planos hoje do que queremos ter ou ser no nosso futuro.

O planejamento da sucessão não é um evento pontual, mas uma atitude que deve (ou deveria) ser adotada em todas as famílias que têm uma empresa. Por isso, nunca é cedo para fazer tal planejamento e os temas serão abordados da forma como as crianças e adolescentes puderem compreender.

O “como” planejar a sucessão em cada momento do ciclo de vida da família

Dependendo da faixa etária da geração mais nova (a que deve ser preparada) algumas ações podem ser implementadas.

Quando os membros dessa geração mais nova ainda são crianças, o cuidado maior deve vir de casa, dos pais. Os filhos aprendem a partir da observação daquilo que seus pais (que ainda são seus heróis) fazem. Aquela frase “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona! Na realidade o que fica registrado na cabecinha das crianças é o que os seus pais fazem no cotidiano.

Em algumas famílias as crianças aprendem, desde cedo, que “é importante trabalhar”, que “o dinheiro é a recompensa pelo trabalho sério”, que “não dá pra ter tudo o que a gente quer”. Em outras famílias, os pais, por acreditarem que o mundo já é duro e cruel o suficiente, ou por se sentirem culpados por não estarem tão presentes e tão disponíveis quanto gostariam, acabam mimando seus filhos … É como se essas crianças vivessem em uma bolha, afastadas de realidade. Se elas não aprenderem a lidar com os sentimentos de perda e de frustração em casa, com pessoas queridas os apoiando, vai ser mais difícil lidar com tais sentimentos no futuro.

Quando os filhos já são maiores podem participar de iniciativas formais, como os grupos de herdeiros, e podem participar de discussões, em casa, que envolvam “gastos/investimentos” como as próximas férias, a compra do carro novo e até de encontros em que o assunto seja o negócio da família. Isso pode ser feito de uma forma mais direta – explicando como as decisões são tomadas ou falando sobre os clientes, fornecedores, ou, ainda, de uma forma indireta, com questões mais amplas sobre empreendedorismo, análise de setor, planejamento de negócios, inovação, tendências etc.

Se os membros dessa geração mais nova já trabalham na empresa, mas ainda não têm poder de decisão podem participar de uma espécie de Conselho – o Conselho Jovem – com o objetivo de discutir aspectos do negócio. Eles são observadores participantes da gestão da empresa.

Outra questão é a freqüência desses encontros. Eles devem acontecer de acordo com a disponibilidade e, principalmente, de acordo com o interesse dos envolvidos na preparação.

Nada de discursos contraditórios!

Na realidade os filhos aprendem com o que os pais fazem e com o que eles dizem, Por disso, vou deixar uma dica que vale sempre – atenção com as mensagens contraditórias! Cuidado com elas!

Alguns pais, empresários, ao mesmo tempo em que desejam que seus filhos possam trabalhar na empresa, querem dar a eles a possibilidade de cursarem qualquer curso de graduação e seguirem uma carreira independente da empresa da família.

Alguns jovens se sentem sem saída, pois, ao mesmo tempo em que, seus pais dizem “escolham o curso, a carreira que quiserem”, eles dizem, “quando você vier trabalhar na empresa da família …”

Costumo dizer que substituir o quando pelo se daria uma maior liberdade para eles escolherem o caminho que realmente desejam.

É muito importante que exista um canal de comunicação na família e que as pessoas possam falar sobre o que querem fazer no futuro. Por uma série de razões, esses assuntos são adiados até o momento de preencher a inscrição do vestibular.

Então, para quem tem filhos, em especial no ensino médio, duas dicas: 1) converse com as crianças / adolescentes sobre as carreiras, as profissões, suas expectativas para o futuro deles, o que eles esperam e 2) evite os discursos contraditórios!

Sucessão e escolha do novo líder

Por Carla Bottino

Aléxis Novellino, sócio-diretor da empresa de consultoria Prosperare, especializada em empresas familiares, publicou na sua revista eletrônica – Família, iLTDA – uma série de textos sobre a sucessão e a escolha do novo líder que será reproduzida aqui no Portal Tudo em Família.

De acordo com Aléxis Novellino, procurar e escolher o novo sucessor ou CEO da uma empresa familiar pode ser uma tarefa difícil que demanda tempo e paciência. Grandes projetos, novos desafios, seleções de profissionais, avaliação de desempenhos são algumas das fases de um processo que pode durar anos.

Eventualmente, a conscientização de que escolher um dos filhos como o sucessor pode não ser a melhor das saídas para o determinado momento da empresa, transforma-se em um dos grandes desafios do fundador. Procurar alguém fora da empresa, não-familiar, pode ser mais difícil ainda.

Pensando na complexidade do assunto da escolha de um novo líder, a Newsletter da Prosperare – Família iLTDA- apresentou uma série sobre o processo da passagem do bastão e da escolha do novo sucessor. Em uma abordagem mais profunda de cada fase desse processo, a publicação eletrônica identificou 7 momentos:

• Quando começar a buscar um sucessor?;

• Decidindo se profissionais não-familiares serão procurados para o processo sucessório;

• Como escolher o sucessor?;

• O modelo de liderança a ser escolhido;

• O que fazer com aqueles que não foram escolhidos;

• A hora de passar o bastão; e

• O que fazer se não houve planejamento algum e o líder “bateu as botas?”.

Essas são algumas dúvidas normais e naturais num momento tão crucial da vida de uma empresa familiar e que por isso, valem uma atenção especial.

Mulheres empreendedoras nas empresas familiares

Por Alexis Novellino , Revista eletrônica Família iLTDA, agosto de 2010

Em junho de 2010 morreu na Suíça o presidente do grupo Swatch, Nicolas Hayek. Seu império foi deixado no comando de Nayla Hayek, sua filha e sucessora direta. Nayla foi preparada para esse momento durante anos e foi votada por unanimidade pelo Conselho de Administração. Assim, se tornou a única mulher a presidir uma empresa do índice de referência da bolsa de valores suíça, o Swiss Benchmark SMI Index.

Há décadas atrás, acontecimentos como esse não seriam cogitados. Até hoje mulheres no comando de empresas aparecem como exceções no mundo empreendedor. Segundo pesquisa feita pela Prosperare em 2007, apenas 6% dos presidentes (CEOs) nas empresas familiares são mulheres. Nestas empresas, até recentemente, a maioria das herdeiras não era considerada como sucessora potencial aos olhos do pai-fundador. No início da história da família Gucci, a única filha de Guccio Gucci, o fundador da empresa, Grimalda, foi excluída da divisão da herança da empresa pelo próprio pai por ser mulher.

Depois de muitos sutiãs queimados, passeatas e da luta por direitos legais para as mulheres, parece que o cenário para elas está se transformando. Segundo a National Foundation for Women Business Owners, cerca de 8 milhões de empresas, em sua maioria pequenas e médias, pertencem a mulheres, empregando 18, 5 milhões de pessoas. No cenário empresarial, também não é necessário grande esforço para vê-las em posições de destaque. Christie Hefner, herdeira da Playboy, sucedeu seu pai e transformou a empresa de revistas em um império do entretenimento.

Muitos fundadores hesitariam em deixar seu legado empresarial nas mãos de suas filhas, escolhendo um filho para sucedê-lo. Mas, no sentido oposto a esse pensamento paternalista e machista, as mulheres apresentam a mesma ou superior capacidade profissional para diversas áreas.

As mulheres tendem por natureza, a ser mais sensíveis na percepção de seu ambiente e das pessoas que ali convivem com elas. Portanto, podem ter maior destaque, independente da área em que atuem, nas relações humanas. Mulheres têm uma grande capacidade de relacionamento com os outros. Por isso, a comunicação pode ser muito facilitada dentro da empresa da família pela herdeira ou pela mulher do fundador, como uma mediadora de conflitos.

Apesar de compartilharem essa sensibilidade intuitiva também nos negócios, são perseguidas por funções secundárias dentro das próprias empresas familiares. Existem casos em que, mesmo provando serem competentes e capazes, mulheres são subjugadas apenas por serem mulheres. Essa “ditadura masculina” impede muitas vezes, o desenvolvimento de uma grande profissional e alma empreendedora. A igualdade entre profissionais deve sempre ser cultuada, exigindo de cada um a mesma competência, dedicação e desempenho.

Assim, um dos problemas da mulher no mundo empresarial é a falta de visibilidade aliada ao preconceito. As mulheres precisam ser vistas para que possam se destacar. Por isso, necessitam de empenho para lutar por seu próprio espaço. A família precisa vê-las não apenas como mães ou irmãs que dependerão dos dividendos da empresa; essa visão já é ultrapassada e precisa ser reavaliada. A mulher moderna é tão capaz quanto os homens, dentro do ambiente empresarial, de ser uma profissional competente e ocupar cargos importantes.

Além de tantas dificuldades no ambiente profissional, por serem mulheres e conseqüentemente, futuras mães, elas também enfrentam uma dupla jornada de trabalho: em casa e na empresa. A mulher moderna é exigida como nunca antes e se divide para cuidar dos filhos, da casa e de sua vida profissional. Nesse sentido, a empresa familiar pode ser uma facilitadora na conciliação de tantas funções, já que aproxima família e empresa, salvo os devidos limites.

Pode parecer uma longa e difícil jornada, mas não é impossível. No Brasil temos muitos exemplos de mulheres que se destacaram nas empresas de suas famílias. Sônia Hess de Souza é a presidente da Dudalina, uma das maiores camisarias da América Latina, com sede em Blumenau, Santa Catarina. Sônia é a sexta filha de uma família de 16 irmãos e teve que mostrar que era capaz de comandar a empresa fundada pela mãe por competência e dedicação, não apenas por parentesco. Em 2003, assumiu a presidência da companhia. Para ela, o segredo de seu sucesso é trabalhar muito, amar o que faz e acreditar nas pessoas. “Quem faz a diferença são as pessoas”, diz Sônia.

Outra mulher que chegou ao comando de uma grande empresa é Luiza Helena Trajano, presidente da rede Magazine Luiza. A empresa comandada por essa francana, mãe de três filhos, é a terceira maior rede de varejo do Brasil, presente em sete Estados, com 456 lojas. No momento, negocia com a rede Lojas Maia, tentando alcançar o segundo lugar no ranking do varejo com uma receita de R$ 5,7 bilhões.

Segundo o americano Thomas Stanley, autor do livro The Many Journeys of Successfull American Businesswomen – As Muitas Jornadas da Mulher de Negócios de Sucesso nos Estados Unidos – as mulheres bem sucedidas americanas compartilham um perfil de estilo de vida feito no trabalho, perseverança, planejamento e disciplina. Além disso, afirma também que as mulheres são naturalmente mais aptas a trabalhar em grupo e tendem a colaborar com mais afinco para a produção de resultados coletivos. Tom Peters, um dos gurus da administração nos Estados Unidos, confirma o pensamento de Stanley destacando que as linhas machistas teóricas de pensamentos estão fora de moda do mundo empreendedor. “Quem não percebeu que as mulheres são a força motriz mais vital do capitalismo hoje deve rever seus conceitos”. E completa afirmando, “Definitivamente, elas venceram”.

O lugar dos “agregados”

Por Alexis Novellino, publicado na revista Família iLTDA, setembro 2010

A inclusão ou não de agregados dentro de empresas familiares é um assunto complexo e impossível de ser generalizado. Em muitos casos, os agregados se deram muito bem trabalhando e até salvaram a empresa da família; em outros, a inclusão foi um desastre. A empresa farmacêutica Droga Raia conheceu o sucesso com um dos agregados da família.

Em 1966, quando a rede não apresentava o crescimento vertiginoso das décadas de 40 e 50, seu dono e fundador João Baptista Raia resolveu vendê-la. Um de seus genros que já trabalhava na empresa, Arturo Pipponzi, anunciou que compraria os negócios da família Raia. O mais novo dono se mostrou um empresário competente e dedicado, com a mesma paixão pela empresa que seu sogro demonstraria. Expandiu os negócios e até 1976 abriu mais sete filiais em todo o estado de São Paulo.

A história do Grupo Votorantim também é marcada pela presença de um genro com perfil empreendedor. José Ermírio de Moraes construiu um dos maiores impérios industriais do país a partir de uma empresa de seu sogro. Depois de voltar dos Estados Unidos, onde se formou engenheiro de minas na Colorado School of Mines, conheceu a paulistana Helena e seu pai, o industrial Antônio Pereira Ignácio, dono do maior complexo industrial de tecelagem do país na época, a Sociedade Anônima Fábrica Votorantim. Depois do casamento de Helena e José Ermírio, ele assumiu a diretoria dos negócios do sogro e transformou a tecelagem num conglomerado de empresas com vários segmentos no mercado.

Embora existam casos como da Droga Raia e do Grupo Votorantim, as empresas familiares hoje hesitam muito mais para contratar seus agregados. Essa atitude representa uma prevenção contra possíveis problemas futuros, como:

•    Divórcio: Os índices de divórcios hoje estão elevados e por isso uma possível separação deve ser sempre cogitada. Ela pode causar um mal estar geral na empresa e o agregado passar uma má impressão do negócio familiar para os sucessores. Nunca esqueça que os agregados serão os pais da próxima geração;

•    Mal estar do próprio agregado: O agregado contratado, ao longo de seu dia a dia na empresa, pode passar a sentir pressão por parte dos outros membros familiares. Estes podem desconfiar de quais são suas reais intenções dentro da empresa, vigiando e examinando-o constantemente;

•    Mal estar do próprio agregado II: Outro mal estar que o agregado pode sentir é em relação aos empregados não familiares da empresa os quais podem pensar que o ingresso do agregado se deve mais a sua condição dentro da família do que seu próprio valor profissional e pessoal;

•    Agregado em cargo importante: Na maioria dos casos de inclusão de um agregado na empresa familiar, o profissional já é muito experiente e por isso é colocado em um cargo de alta responsabilidade. Isso também pode causar ciúmes ou inveja por parte de outros membros familiares com funções de menos importância.
A contratação hoje de um agregado é polêmica, já que pode trazer tantos problemas futuros como os pontuados acima. A empresa deve ter certeza de que precisa de uma pessoa com aquele perfil e características e essa pessoa deve ser um profissional experiente e competente. A necessidade precisa ser da empresa e não do agregado.

Se a escolha for contratar agregados, é conveniente incorporá-los também nos valores da família, fazer com que eles conheçam os objetivos e história da empresa, mantê-los informados e ter sempre atualizadas suas opiniões sobre o andamento da empresa.

O processo de contratação de um agregado deve ser tão profissional como de qualquer outro candidato. O RH da empresa deve cuidar disso, mas inicialmente o agregado deve ser entrevistado por vários executivos, da família ou não, além de mais um membro familiar que trabalhe na empresa. Além disso, a comunicação deve ser clara e direta: com as expectativas alinhadas de ambos os lados, tanto a empresa como o agregado, saberão o que esperar um do outro.

Um problema mais delicado que aparece depois da contratação de um agregado é a sua possível participação na propriedade da empresa, como acionista. Depois de anos trabalhando na companhia, o agregado, sentindo-se da família, pode surgir com essa proposta. Hoje em dia, o indicado para as empresas familiares é nunca dividir as ações da empresa com agregados. Eles podem até representar um alto de grau de confiança, mas como foi dito no início, hoje podem ser da família e amanhã não mais.

A escolha do agregado para cargos na empresa da família é uma experiência arriscada já que pode significar uma experiência negativa tanto para a família como para a empresa, mas também pode representar o renascimento dos negócios da família, como no caso da Droga Raia. Não há fórmula que acerte com exatidão o que é mais correto fazer, mas levar em conta apenas as demandas da empresa é um caminho consciente para se seguir.

Sociedade Simples: características e aplicação aos sócios-médicos

Por Jane Resina*

As sociedades simples estão disciplinadas nos artigos 997 e seguintes do Código Civil e são constituídas com a finalidade da prestação de serviços decorrentes de atividade intelectual e de cooperativa. Em razão de não terem caráter empresarial, não precisam ser registradas na Junta Comercial, bastando a inscrição do contrato social no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do local da sede.

Os artigos de lei já citados, definem todas as cláusulas obrigatórias do contrato social, sendo: nome com qualificação completa, definição do objeto social, sede, prazo e capital social, se haverão sócios que contribuirão com serviços, nomeação dos administradores, participação de cada sócio nos lucros e nas perdas e responsabilidade dos sócios quanto às obrigações sociais.

A confecção do contrato social é de suma importância para os sócios, pois é exatamente nesse momento que as partes definirão questões relevantes acerca da sociedade, tais como, a possibilidade do ingresso de herdeiros, como se dará a distribuição de lucros, responsabilidade subsidiária ou solidária dos empresários, dentre outros temas fundamentais para a convivência harmônica entre os sócios.

Outro ponto importante a ser observado no momento da constituição desse tipo de empresa, é a decisão quanto à responsabilidade dos sócios pelas conseqüências da gestão da sociedade, podendo essa responsabilidade ser fixada como limitada ou ilimitada.

Para que a responsabilidade seja limitada, ou seja, para que os sócios respondam pelas dívidas e passivos da empresa apenas até o limite do seu capital social, deverá constar no contrato que os sócios não respondem subsidiariamente pelas obrigações sociais. Já para que a responsabilidade seja ilimitada, o que significa que os sócios respondam com seus bens particulares pelas dívidas sociais, deverá constar no contrato social que os sócios respondem subsidiariamente pelas obrigações sociais.

Há que se observar que a sociedade simples requer para a sua constituição a atuação pessoal dos sócios, pois não poderá ser constituída com objetivo empresarial. Esse é o único tipo de sociedade que admite o ingresso do sócio através da contribuição em serviço, ou seja, um sócio pode ingressar com capital (bens imóveis, dinheiro e outros) e o outro sócio ingressar exclusivamente com a prestação de serviço.

Para a configuração em sociedade simples, as atividades desenvolvidas pelos sócios devem ter a característica vinculada a habilidade técnica e intelectual, pois caso os sócios utilizem a empresa para o exercício de atividades qualificadas como empresárias, haverá a descaracterização da empresa, transformando-a em Sociedade Empresária, podendo ocasionar diversos prejuízos à empresa, entre eles, os de natureza social e tributária.

Esse tipo de sociedade é muito utilizado por médicos que prestam serviços exclusivos vinculados à medicina, citando como exemplo, a realização de exames em diversas áreas e o  atendimento clínico.

Nesses casos específicos há que se observar que a sociedade deve ser constituída levando-se em conta única e exclusivamente a atividade intelectual médica, caso o contrato social tenha elementos empresarias (gestão, controle, prestação de outros serviços não vinculados a área específica dos sócios) ficará descaracterizado o tipo societário, não sendo mais aplicáveis os benefícios da sociedade simples, passando a se enquadrar como sociedade empresária.

* A autora é advogada. Sócia fundadora do escritório Resina & Marcon Advogados Associados.  Mestre UnB – Universidade de Brasília, MBA em Gestão Empresarial/FGV-RJ. Especialização em Direito Empresarial UCDB/MS. Palestrante, com livros e artigos publicados  nas áreas de Direito Societário e Eletrônico.

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