As mulheres na empresas familiares

Mulheres empreendedoras nas empresas familiares

Por Alexis Novellino , Revista eletrônica Família iLTDA, agosto de 2010

Em junho de 2010 morreu na Suíça o presidente do grupo Swatch, Nicolas Hayek. Seu império foi deixado no comando de Nayla Hayek, sua filha e sucessora direta. Nayla foi preparada para esse momento durante anos e foi votada por unanimidade pelo Conselho de Administração. Assim, se tornou a única mulher a presidir uma empresa do índice de referência da bolsa de valores suíça, o Swiss Benchmark SMI Index.

Há décadas atrás, acontecimentos como esse não seriam cogitados. Até hoje mulheres no comando de empresas aparecem como exceções no mundo empreendedor. Segundo pesquisa feita pela Prosperare em 2007, apenas 6% dos presidentes (CEOs) nas empresas familiares são mulheres. Nestas empresas, até recentemente, a maioria das herdeiras não era considerada como sucessora potencial aos olhos do pai-fundador. No início da história da família Gucci, a única filha de Guccio Gucci, o fundador da empresa, Grimalda, foi excluída da divisão da herança da empresa pelo próprio pai por ser mulher.

Depois de muitos sutiãs queimados, passeatas e da luta por direitos legais para as mulheres, parece que o cenário para elas está se transformando. Segundo a National Foundation for Women Business Owners, cerca de 8 milhões de empresas, em sua maioria pequenas e médias, pertencem a mulheres, empregando 18, 5 milhões de pessoas. No cenário empresarial, também não é necessário grande esforço para vê-las em posições de destaque. Christie Hefner, herdeira da Playboy, sucedeu seu pai e transformou a empresa de revistas em um império do entretenimento.

Muitos fundadores hesitariam em deixar seu legado empresarial nas mãos de suas filhas, escolhendo um filho para sucedê-lo. Mas, no sentido oposto a esse pensamento paternalista e machista, as mulheres apresentam a mesma ou superior capacidade profissional para diversas áreas.

As mulheres tendem por natureza, a ser mais sensíveis na percepção de seu ambiente e das pessoas que ali convivem com elas. Portanto, podem ter maior destaque, independente da área em que atuem, nas relações humanas. Mulheres têm uma grande capacidade de relacionamento com os outros. Por isso, a comunicação pode ser muito facilitada dentro da empresa da família pela herdeira ou pela mulher do fundador, como uma mediadora de conflitos.

Apesar de compartilharem essa sensibilidade intuitiva também nos negócios, são perseguidas por funções secundárias dentro das próprias empresas familiares. Existem casos em que, mesmo provando serem competentes e capazes, mulheres são subjugadas apenas por serem mulheres. Essa “ditadura masculina” impede muitas vezes, o desenvolvimento de uma grande profissional e alma empreendedora. A igualdade entre profissionais deve sempre ser cultuada, exigindo de cada um a mesma competência, dedicação e desempenho.

Assim, um dos problemas da mulher no mundo empresarial é a falta de visibilidade aliada ao preconceito. As mulheres precisam ser vistas para que possam se destacar. Por isso, necessitam de empenho para lutar por seu próprio espaço. A família precisa vê-las não apenas como mães ou irmãs que dependerão dos dividendos da empresa; essa visão já é ultrapassada e precisa ser reavaliada. A mulher moderna é tão capaz quanto os homens, dentro do ambiente empresarial, de ser uma profissional competente e ocupar cargos importantes.

Além de tantas dificuldades no ambiente profissional, por serem mulheres e conseqüentemente, futuras mães, elas também enfrentam uma dupla jornada de trabalho: em casa e na empresa. A mulher moderna é exigida como nunca antes e se divide para cuidar dos filhos, da casa e de sua vida profissional. Nesse sentido, a empresa familiar pode ser uma facilitadora na conciliação de tantas funções, já que aproxima família e empresa, salvo os devidos limites.

Pode parecer uma longa e difícil jornada, mas não é impossível. No Brasil temos muitos exemplos de mulheres que se destacaram nas empresas de suas famílias. Sônia Hess de Souza é a presidente da Dudalina, uma das maiores camisarias da América Latina, com sede em Blumenau, Santa Catarina. Sônia é a sexta filha de uma família de 16 irmãos e teve que mostrar que era capaz de comandar a empresa fundada pela mãe por competência e dedicação, não apenas por parentesco. Em 2003, assumiu a presidência da companhia. Para ela, o segredo de seu sucesso é trabalhar muito, amar o que faz e acreditar nas pessoas. “Quem faz a diferença são as pessoas”, diz Sônia.

Outra mulher que chegou ao comando de uma grande empresa é Luiza Helena Trajano, presidente da rede Magazine Luiza. A empresa comandada por essa francana, mãe de três filhos, é a terceira maior rede de varejo do Brasil, presente em sete Estados, com 456 lojas. No momento, negocia com a rede Lojas Maia, tentando alcançar o segundo lugar no ranking do varejo com uma receita de R$ 5,7 bilhões.

Segundo o americano Thomas Stanley, autor do livro The Many Journeys of Successfull American Businesswomen – As Muitas Jornadas da Mulher de Negócios de Sucesso nos Estados Unidos – as mulheres bem sucedidas americanas compartilham um perfil de estilo de vida feito no trabalho, perseverança, planejamento e disciplina. Além disso, afirma também que as mulheres são naturalmente mais aptas a trabalhar em grupo e tendem a colaborar com mais afinco para a produção de resultados coletivos. Tom Peters, um dos gurus da administração nos Estados Unidos, confirma o pensamento de Stanley destacando que as linhas machistas teóricas de pensamentos estão fora de moda do mundo empreendedor. “Quem não percebeu que as mulheres são a força motriz mais vital do capitalismo hoje deve rever seus conceitos”. E completa afirmando, “Definitivamente, elas venceram”.

As possibilidades e os dilemas das mulheres nas empresas familiares

Por Carla Bottino

O tema “as mulheres nas empresas familiares” tem sido muito discutido e pode ser desdobrado em – as vantagens de trabalhar em uma empresa familiar, o papel das mulheres nas famílias e nas empresas familiares, a inclusão ou exclusão da mulher no processo de sucessão, entre outros. Neste artigo abordarei algumas dessas questões.

 

Algumas possibilidades – o bônus

As mulheres têm maiores chances de alcançar posições de destaque em empresas familiares – o que inclui assumir cargos mais importantes e salários mais altos. Além disso, a empresa familiar pode abrir espaço para a entrada das mulheres em negócios considerados, tradicionalmente, “para homens”, tais como indústrias da construção civil, oficinas mecânicas e marcenarias.

Vale ressaltar que são possibilidades! Dependendo da cultura da família, as mulheres podem ser excluídas do processo de sucessão, simplesmente por serem mulheres e terem sido treinadas, educadas para cuidar de casa, marido e filho, ou ainda, podem ser excluídas quando a empresa em questão é um negócio considerado masculino.

A empresa familiar oferece a flexibilidade de horário para que as mulheres ( e também os homens) possam ajustar suas necessidades de trabalho às necessidades da casa e, principalmente às necessidades dos filhos.

A experiência e alguns estudos demonstram que, apesar de todo o avanço da medicina, os melhores anos para se ter filhos são os melhores anos para fazer a carreira decolar. Muitas mulheres entram em crise com o nascimento do 1º filho, algumas optam por parar de trabalhar, outras sentem uma grande culpa por deixarem os filhos em casa ou na escolinha. De fato muitas conseguem manter os dois papéis – o de mãe e o de profissional e, não podemos negar que decidir o que fazer nesse momento é um dilema para a grande maioria das mulheres.

Para a mulher que trabalha na empresa da sua família essa é uma questão que pode ser resolvida mais facilmente pois, por mais que um afastamento de longa duração possa causar algum desconforto entre um ou outro membro da família, existe a segurança de poder voltar para a empresa. Ela sai do mercado de trabalho mas tem a garantia de poder voltar para a empresa da família.

 

Alguns dos dilemas – o ônus

Mas se por um lado, trabalhar na empresa da família tem suas vantagens, todas essas possibilidades vêm acompanhadas de diversos dilemas que devem ser enfrentados no dia a dia.

Algumas mulheres se queixam por serem muito cobradas, outras por serem vistas como as menininhas que precisam de muito zelo e são extremamente protegidas. De um lado estão as que precisam ser “mulheres maravilhas” as super poderosas que conseguem dar conta do trabalho na empresa, do trabalho em casa, das necessidades do marido, dos filhos, que conseguem se cuidar, fazem ginástica, vão ao salão e ainda têm tempo para sair e manter uma vida social satisfatória. Do outro lado estão aquelas que reclamam pois, na visão da família, elas deveriam ficar em casa, são o sexo frágil e precisam ser super protegidas mas já que foram trabalhar, recebem as tarefas mais simples, de pouca importância  Os extremos são sempre lugares pouco confortáveis!

As mulheres, muito mais do que os homens, foram educadas para cuidar da casa, família … são (ou costumam ser) as mediadoras dos conflitos e, por isso, têm uma forte preocupação em não magoar o outro e, pode surgir um grande conflito de lealdade. Alguns estudos mostram que quando a mulher trabalha em uma empresa que não seja a da sua família, ela se sente muito mais a vontade para lutar pelos seus objetivos, pela sua carreira. Na empresa da sua família, colocar as suas necessidades em 1º lugar poderia representar um falta de lealdade com a empresa e, em especial, com os seus antecessores.

Além das questões relativas à empresa familiar, a entrada da mulher no mercado de trabalho ainda é bastante recente. Ainda hoje, existe uma discriminação e uma visão estereotipada da mulher na sociedade, reforçadas, sobretudo, pela postura e atitude das mulheres que, ao mesmo tempo em que foram educadas para ocupar o espaço privado – a casa – estão ocupando a esfera pública – o mercado de trabalho.

Mulheres nas empresas familiares

Por Carla Bottino

Durante muito tempo, o lugar de mulher era em casa cuidando dos filhos, da casa, do mundo privado da família. Só ela estava preparada para isso! Mulher não trabalhava fora, não montava o seu próprio negócio e não poderia ser a sucessora do seu pai nos negócios da família.

Apesar do cenário atual ser bastante diferente, ainda encontramos famílias tradicionais em que o lugar da mulher continua sendo a casa e, mesmo estando longe da empresa, algumas mulheres, principalmente as esposas, podem ter uma grande influência nos negócios da família.

Qual é o papel da mulher na empresa familiar? Responder essa questão não é uma tarefa fácil, pois depende da empresa, depende da família e de outros tantos fatores.

Na minha experiência com empresas familiares encontrei mulheres que eram donas de casa, as “matriarcas” da família e que tinham como função reunir os membros da família e manter a harmonia familiar. Encontrei mulheres empreendedoras que montaram seus próprios negócios, aquelas que herdaram um negócio de família; as que se tornaram “as sucessoras” por falta de opção e algumas (ainda muito poucas) que foram escolhidas como as sucessoras. As mulheres dos empreendedores também são mulheres especiais.
Recentemente encontrei um texto no internet, um empreendedor falando sobre a mulher do empreendedor, em especial sobre a sua mulher. Nada que eu escrevesse seria mais real do que o próprio empreendedor agradecendo à sua esposa por entendê-lo e, por isso pedi autorização para divulgar o texto no portaltudoemfamília.

“A Bia, minha mulher sempre diz: Muito pior do que o empreendedor é a mulher do empreendedor!

Ela não é a dona do negócio, mas acorda de madrugada junto com a gente. Ela não entende tanto assim do negócio, mas tem de ouvir horas e horas de conversas, de explicações, de pirações, de problemas, de soluções, de idéias e tem ainda de compreender tudo!

Ela não sonha de olhos abertos, mas tem que ser capaz de curtir o nosso sonho junto conosco, vivendo e sentindo cada pequena vitória, cada pequena conquista, cada momento que, por mais simples que seja, pode nos inebriar por horas.

Ela mais sofre do que se beneficia com tudo isso, mas tem que saber apostar, trocar horas de lazer por mais horas de trabalho, entender que trabalho para nós é hobby, que chegar cedo no escritório na segunda-feira é divertido e que quando nos dedicamos por 12, 14, 16 horas diárias ao que fazemos é com um prazer enorme.

Ela em que saber enxergar o futuro e conseguir perceber que se nos tirarem a capacidade de sonhar, de querer mudar o mundo, de fazer diferente, nos tornaremos uns frustrados, uns chatos, uns babacas completos. Tem que entender que dinheiro é importante, afinal ninguém paga as contas com sonhos, mas que ele é conseqüência e não fim, e que para nós, nos focarmos apenas nisso, em uma simples ocupação a ser trocada por dinheiro, é algo terrível, matador, absolutamente incompreensível.

Ela tem que saber nos apoiar mesmo nos piores momentos, nos jogando pra cima, nos incentivando, nos fazendo pensar de outro modo, tentar outros caminhos. Tem que ter uma habilidade fantástica para nos ajudar a enxergar quando um negócio não vai mesmo dar certo e nos ajudar a virar a vida para outra coisa. Tem que nos mimar, nos ninar, nos tratar como bebês quando estamos desanimados com o negócio. E tem que entender que não amamos o negócio em primeiro lugar, que nossa vida pessoal é super importante, mas empreender também é pessoal, portanto faz parte desta mesma vida.

Ufa! A Bia tem razão. Muiiiito pior que o empreendedor – que é um maluco por natureza – é mesmo a vida da mulher do empreendedor. Obrigado Bia por me entender do jeito que você me entende!”

Bob Wollheim www.empresabrasil.com.br