Rede de apoio

FBN Brasil – De famílias para famílias

Por Carla Bottino

Criado em 1990 na Suiça, o FBN – The Family Business Network é uma associação sem fins lucrativos que congrega mais de 3500 famílias empresárias em mais de 40 países. Promove a sustentabilidade dos negócios dirigidos por famílias por meio de projetos de formação, representatividade e pesquisas sobre o universo das empresas familiares.

É uma organização dirigia por famílias para famílias cujo o propósito foi trazido ao Brasil em 2000 por um grupo de empresários voluntários que percebeu o valor de uma associação desta natureza em um país como o Brasil onde mais de 80% das empresas são familiares.

A importância de entender este universo e promover um ambiente confiável, sério e neutro para que estes fóruns sejam realizados fica evidente na representatividade do segmento. Veja os fatos:

– O pilar da economia mundial são as empresas familiares chegando a mais de 90% do PIB em alguns países (FBN Internacional).

– Empresa familiar tem desempenho superior às companhias de capital aberto (Época Negócios).

Com o objetivo de fazer com que o segmento de empresas familiares no Brasil conheça sua importância econômica , social e política, o FBN Brasil realiza fóruns, congressos, pesquisas e outros projetos que contribuem com a missão da associação e com a perenidade dos negócios dirigidos por famílias, apoiando o desenvolvimento do país.

Como forma de levar o FBN Brasil ao maior número de famílias empresárias brasileiras, o site www.portaltudoemfamilia.com.br vai apoiar a divulgação das iniciativas desta entidade. Para conhecer mais sobre o FBN Brasil, acesse www.fbn-br.org.br.

Grupo de herdeiros

Por Carla Bottino 

A cada dia estou mais convencida da necessidade e da importância de organizar grupos de reflexão com herdeiros de empresas familiares, já que eles vivem situações muito parecidas e não sabem a quem recorrer, com quem conversar …

As discussões que surgem nas salas de aula, nas palestras e nos workshops são muito parecidas com as questões das famílias que acompanho em consultoria ou no consultório (como terapeuta de família) e, principalmente os jovens, se sentem solitários na sua trajetória profissional na empresa da família. São temas relacionados com a escolha da carreira, com a entrada na empresa, o momento e a forma mais adequados para entrar na empresa familiar, como se relacionar com os familiares em um ambiente que não é a casa, como lidar com os conflitos de geração, com os processos de tomada de decisão, entre outros.

Curiosamente, apesar de o cenário mundial já ter mudado e um número significativo de alunos dos cursos de administração ser herdeiro de empresas familiares, os cursos de graduação formam profissionais para trabalhar em grandes empresas e, o tema das empresas familiares quase não é mencionado.

Não sei explicar as razões pelas quais o aluno não tem acesso às informações que ele precisa, mas, posso garantir que essa divergência entre o que ele precisa e o que ele recebe faz com que, “nos bastidores”, os alunos busquem, entre os seus pares, aqueles que vivenciam experiências parecidas com as suas.

Em função dessa carência, estarei promovendo, a partir de setembro, um espaço para que herdeiros possam compartilhar suas experiências, aprender e ensinar e, ainda formar uma rede de contatos. O grupo acontecerá com encontros presenciais na cidade do Rio de Janeiro e, poderá ter como desdobramento um grupo de discussão virtual (fórum) para incluir participantes de outras cidades e estados.

Quem tiver interesse em participar, pode enviar um email para contato@portaltudoemfamilia.com.br

Empresas Familiares – Um novo campo de estudos

Por Carla Bottino

Apesar da importância das empresas familiares para a economia mundial, existem poucos estudos sobre esse tipo de organização. Até bem pouco tempo “a empresa familiar era completamente ignorada pelo meio acadêmico, que via nela uma instituição antiquada, em extinção, indigna de ser estudada por gente séria” (Vidigal, 1999).

O ensino de Administração de Empresas no Brasil ainda é bastante pré-conceituoso em relação às empresas familiares. Aqui, no Brasil, elas são vistas como micros e pequenas empresas e não existe qualquer tipo de diferenciação entre as empresas familiares e não-familiares (apesar de sabermos que as empresas familiares enfrentam situações particulares). Além disso, os profissionais da Administração não são preparados para gerirem esse tipo de organização. Praticamente todas as faculdades de Administração de Empresas ensinam finanças para empresas grandes e ou multinacionais.

Renato Bernhoeft chama atenção para o preconceito em relação às empresas familiares

Na verdade existe um preconceito pois não temos uma cadeira sobre empresas familiares nas universidades brasileiras como há na Europa e nos Estados Unidos. Hoje existem apenas atividades extra-curriculares nas faculdades de Administração de Empresas” (Marques, 2006).

Entretanto esse cenário está mudando. Embora desconheçamos a existência de uma disciplina formal de graduação sobre empresas familiares, algumas universidades possuem iniciativas que caminham nessa direção. O Programa de Formação de Empreendedores da PUC-Rio oferece uma disciplina eletiva de 30 horas semestrais sobre as empresas familiares, suas especificidades, vantagens, desvantagens e principais desafios. No interior de São Paulo existe a FAE, uma faculdade de pequeno porte, que foi criada na essência para atender os herdeiros (Marques 2006). Embora sejam novidade para os cursos de graduação, há algum tempo existem cursos com o objetivo de formar acionistas e discutir questões ligadas à sucessão nas empresas familiares1. Esses cursos são oferecidos em programas de especialização de universidades ou por empresas de consultoria que assessoram as empresas familiares e seus membros.

Nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil, há inúmeros programas de formação de acionistas e herdeiros oferecidos por universidades e escolas. Os mais conhecidos, nos EUA, são os das universidades Harvard e Northwestern. Escolas como a suíça IMD (sigla do Instituto Internacional de Desenvolvimento de Gerência) e a francesa Insead também apresentam programas desse tipo. No Brasil, a Fundação Dom Cabral e a Bernhoeft consultoria são as entidades mais tradicionais. Os cursos têm uma média de 16 a 40 horas/aula.

Durante muito tempo, nem os teóricos preocupados com as questões organizacionais, nem aqueles preocupados com as questões familiares demonstraram interesse pelas empresas familiares. Lansberg (1988) em um artigo sobre o desenvolvimento do campo de estudo das empresas familiares mostra que uma busca no Social Science Citation Index revela que, entre os anos 1977 e 1988, foram publicados 53 artigos referentes às empresas familiares. Entretanto, nesse mesmo período, foram publicados 813 artigos sobre o empreendedorismo. De acordo com este autor, existem algumas razões importantes para explicar porque os pesquisadores negligenciaram as empresas familiares.

Primeiro, apesar da prevalência das empresas familiares acredita-se que o controle da empresa não fica por muito tempo nas mãos da família. Embora isso seja verdade para muitas empresas familiares, ainda podemos listar grandes empresas familiares que continuam sendo controladas por família.2 Além disso, o fato de poucos cargos de gerência das grandes empresas serem ocupados por membros da família proprietária contribui para essa confusão. Dessa forma, parece que as famílias têm pouco ou nenhum controle sobre a administração do negócio.

Depois, estudar empresa e família ao mesmo tempo não é uma tarefa simples, pois, além de os pesquisadores estarem presos em seus paradigmas, nas formas de ver o mundo, resultantes da sua formação (em uma das duas áreas), as normas sobre o comportamento empresarial adequado fazem com que os membros da organização neguem informações sobre a extensão da influência da dinâmica familiar no comportamento dos membros da família na empresa e vice-versa. E, além disso, a premissa de que trabalho e família são duas coisas independentes e que não se misturam faz com que os profissionais das duas áreas fiquem restritos à sua área de saber, mesmo quando o objeto de estudo são as empresas familiares.
Contudo, aos poucos, esse quadro está mudando. Nos últimos trinta ou quarenta anos, vem sendo desenvolvido, nos Estados Unidos e na Europa, um novo corpo teórico a respeito das empresas familiares, e organizações como o Family Firm Institute (FFI), sediado nos EUA, e o Family Business Network (FBN), da Suíça, foram criadas com o intuito de auxiliar o trabalho de profissionais que lidam diretamente com essas organizações, investigando questões relacionadas à sucessão, à entrada da mulher no mercado de trabalho e, conseqüentemente, no contexto das empresas familiares, e aos mitos em torno das empresas familiares.

O Family Firm Institute possui uma revista especializada – Family Business Review – que traz, nas suas quatro edições anuais, artigos teóricos, pesquisas de campo e entrevistas com e sobre empresas familiares, ressaltando, sobretudo, questões relacionadas à sucessão, aos processos de profissionalização das empresas familiares e de formação e profissionalização dos herdeiros. De fato, a administração se preocupa em discutir e abordar questões relativas a estratégias e ferramentas para a operacionalização das empresas em geral, sejam elas familiares ou não. Encontramos também, principalmente nas publicações do FFI, discussões sobre os aspectos psicológicos do empreendedor / fundador da empresa, as características pessoais dos líderes, os aspectos intra-psíquicos, etc. Parece existir uma preocupação com os sujeitos individualmente. Também não é raro encontrarmos artigos mostrando as dificuldades presentes nas empresas familiares, relatos de casos e escândalos envolvendo essas famílias, induzindo, assim, a um discurso viciado que contempla, principalmente, os fracassos e dificuldades das empresas familiares.

Lansberg (op.cit.) sugere que mudanças nas relações sociais e de trabalho (atreladas a mutações no sistema econômico capitalista) impõem a necessidade de se organizar esse campo de estudo e prática, uma vez que afetam diretamente a dinâmica das empresas familiares. Ele cita, por exemplo, dados demográficos norte-americanos como justificativas para a organização desse novo campo de estudo e prática, a saber:

O aumento do número de pessoas tendo que lidar com a sucessão e a aposentadoria é cada vez maior e, como a sucessão nas empresas familiares é um processo bastante complexo e que envolve mudanças significativas nos três sistemas, a demanda por profissionais qualificados, capacitados a assessorar àqueles que estão passando por essa difícil transição cresceu significativamente. Entretanto, advogados, contadores, consultores e terapeutas de família estavam a procura de meios mais eficazes e eficientes que pudessem ajudar seus clientes, justamente, por compreenderem que este processo pode trazer conseqüências para as 3 esferas, não basta, apenas, intervir em uma única esfera.
Além desses profissionais, autônomos, prestadores de serviço, grandes corporações que dependem de negociadores, comerciantes, clientes, fornecedores e franchises, – muitos de empresas familiares – em algum momento da cadeia produtiva começaram a se preocupar com o planejamento da continuidade dessas empresas familiares3.
A entrada da mulher no mercado de trabalho também é outro fator, uma vez que traz à tona, questões até então consideradas irrelevantes para os membros das empresas familiares, como por exemplo, o impacto da dinâmica familiar na prática empresarial e vice-versa e a possibilidade da filha mulher ser candidata à sucessão.

Bird, Welsch, Astraachan e Pistrui (2002), depois de analisarem detalhadamente 148 artigos4 com o objetivo de saber como está sendo desenvolvido o campo de estudo (acadêmico, teórico e prático) das empresas familiares mostram que os itens mais pesquisados são: a) as práticas e estratégias gerenciais, b) a sucessão e seus desdobramentos, c) as especificidades das empresas familiares, d) os conflitos mais freqüentes nas empresas familiares, relacionados, sobretudo, com a sucessão, e) o papel das mulheres nas empresas familiares, e, f) como garantir o sucesso e a continuidade das empresas familiares Os itens a e f estão diretamente relacionados com que chamamos de profissionalização no capítulo anterior.

Até o momento, contudo, encontramos poucos registros de estudos sobre a influência recíproca entre os sistemas familiar e empresarial, excetuando os momentos da sucessão. Duas das poucas publicações sobre o entrelaçamento desses dois sistemas são o “Family Business: Human Dilemmas in the Family Firm – text and cases” – de Kets de Vries (1996), que não existe em português, e o livro De Geração para Geração: Ciclos de vida das empresas familiares”, escrito por Gersick e cols (1997), um grupo multidisciplinar e, muito citado neste trabalho já que são os autores responsáveis pelo modelo tridimensional de desenvolvimento das empresas familiares.

De Vries utilizou uma abordagem clínica para fazer diagnose e intervenção nas empresas familiares. Segundo o autor, para que se possa entender a psicodinâmica das famílias, controladoras de empresas familiares, é preciso explorar (1) o papel das motivações inconscientes, (2) o efeito da realidade intrapsíquica e (3) o impacto das experiências infantis na vida adulta. Ele utiliza conceitos vindos da psicologia e da psicanálise, sobretudo da teoria das relações objetais, psicologia do self, teoria do desenvolvimento infantil, da personalidade, cognitiva e sistêmica de família. Sua ênfase está nos aspectos individuais – motivações, necessidades, mecanismos de defesas, fantasias, sintomas, medos e ansiedades.

Já o livro De Geração para Geração, foi escrito por uma equipe multidisciplinar, envolvendo, principalmente, profissionais da psicologia e administração de empresas, que trabalha prestando serviços (consultoria) para empresas familiares. Nesse texto, fica evidente que existe uma maior aproximação das terapias de família sistêmicas. Os autores utilizam conceitos oriundos da terapia de família, especialmente para falar sobre o modelo tridimensional. Contudo, como apresentamos no capítulo anterior, a família, é vista a partir de uma perspectiva empresarial – a “jovem família” é um estágio que caracteriza a família sem filhos ou com filhos em idade escolar, “a entrada na empresa” é a fase em que os filhos já estão trabalhando no empreendimento familiar, e a “passagem do bastão” é fase da aposentadoria do fundador ou presidente da empresa, quando ocorre a sucessão.

Consultoria e rede de apoio

Por Carla Bottino

Apesar da importância das empresas familiares para a economia mundial, existem poucos estudos sobre esse tipo de organização, principalmente porque ela traz consigo uma série de mitos e preconceitos que até bem pouco tempo a colocavam em uma posição de instituição antiquada, inadequada, nada séria e que, por isso, não merecia a atenção dos estudiosos.

Parece que o cenário está mudando. Embora o número de publicações e estudos sobre as empresas familiares seja pequeno (e no Brasil ele ainda é menor), podemos observar um crescente interesse pelo tema; pessoas que trabalham para esse tipo de organização – sejam elas advogados, consultores, contadores, psicólogos – parecem ter percebido que as empresas familiares possuem características, problemas e desafios específicos e que as teorias de administração não são (ou não seriam) as mais adequadas para analisar e compreender as questões pertinentes às empresas administradas por famílias. É dever da Administração “cuidar” da empresa disponibilizando técnicas e ferramentas de gestão e isso ela faz muito bem.

Nos últimos 30 ou 40 anos vem sendo desenvolvido, nos Estados Unidos e na Europa, um novo corpo teórico a respeito das empresas familiares e, organizações como o FBN- Family Business Network, na Suíça e o FFI – Family Business Institute, sediado nos EUA foram criadas para ajudar no trabalho de profissionais que lidam diretamente com esse tipo de empresas, investigando questões relacionadas, sobretudo à sucessão e profissionalização das empresas familiares e formação e profissionalização dos herdeiros.

O Family Business Network tem um capítulo no Brasil que promove encontros para as novas gerações, workshop e outras atividades para os associados. No site www.fbn-br.org.br – você pode encontrar uma série de informações.

Ao contratar um serviço de consultoria – todo cuidado é pouco!

Ainda é preciso tomar cuidado com uma série de consultores que se diz especialista em empresas familiares por trabalharem, principalmente, na implementação de processos e de novas ferramentas de gestão em empresas administradas por famílias.

Encontramos muitos profissionais extremamente competentes, que realizam seu trabalho de forma séria, ética, trazem resultados significativos para a empresa familiar e são especialistas em gestão de empresas. Se você estiver precisando de um consultor para a área de gestão, está perfeito.
O que vai definir se o profissional é especialista ou não em empresas familiares é a forma de atuação e, sobretudo, o objetivo da sua intervenção.
Embora muitos (ou praticamente todos) consultores de empresas considerem as empresas familiares como um sistema formado por pelo menos 2 subsistemas – família e empresa – o seu foco de intervenção vai ser em um deles. De fato, alguns aspectos podem dificultar o olhar e a atuação ampliados, a saber:

– são negócios de família, ou seja, assuntos pessoais;

– estudar empresa e família ao mesmo tempo não é uma tarefa simples, pois, além de os pesquisadores estarem presos em seus paradigmas, resultantes da sua formação acadêmica (Administração de empresas ou Psicologia), as normas sobre o comportamento empresarial adequado fazem com que os membros da organização neguem uma possível influência da empresa na dinâmica familiar e da família na dinâmica organizacional.

– a premissa de que trabalho e família não se misturam faz com que os profissionais das duas áreas fiquem restritos a sua área de saber, mesmo quando o assunto são as empresas familiares, etc.

Então, ao contratar um serviço de consultoria é preciso ter em mente o que se deseja. Quando o foco de trabalho está em um dos 3 sistemas – família, gestão e patrimônio – você não terá dificuldades em encontrar profissionais altamente qualificados para isso. Já se o objetivo for trabalhar questões específicas das empresas familiares, você terá que procurar um pouco mais. Contudo, muitas vezes, o que parece ser um problema de um dos três círculos – família, gestão ou propriedade – pode ser um disfarce de algo maior, que exija um olhar menos compartimentado da empresa familiar.