O lugar dos “agregados”

Por Alexis Novellino, publicado na revista Família iLTDA, setembro 2010

A inclusão ou não de agregados dentro de empresas familiares é um assunto complexo e impossível de ser generalizado. Em muitos casos, os agregados se deram muito bem trabalhando e até salvaram a empresa da família; em outros, a inclusão foi um desastre. A empresa farmacêutica Droga Raia conheceu o sucesso com um dos agregados da família.

Em 1966, quando a rede não apresentava o crescimento vertiginoso das décadas de 40 e 50, seu dono e fundador João Baptista Raia resolveu vendê-la. Um de seus genros que já trabalhava na empresa, Arturo Pipponzi, anunciou que compraria os negócios da família Raia. O mais novo dono se mostrou um empresário competente e dedicado, com a mesma paixão pela empresa que seu sogro demonstraria. Expandiu os negócios e até 1976 abriu mais sete filiais em todo o estado de São Paulo.

A história do Grupo Votorantim também é marcada pela presença de um genro com perfil empreendedor. José Ermírio de Moraes construiu um dos maiores impérios industriais do país a partir de uma empresa de seu sogro. Depois de voltar dos Estados Unidos, onde se formou engenheiro de minas na Colorado School of Mines, conheceu a paulistana Helena e seu pai, o industrial Antônio Pereira Ignácio, dono do maior complexo industrial de tecelagem do país na época, a Sociedade Anônima Fábrica Votorantim. Depois do casamento de Helena e José Ermírio, ele assumiu a diretoria dos negócios do sogro e transformou a tecelagem num conglomerado de empresas com vários segmentos no mercado.

Embora existam casos como da Droga Raia e do Grupo Votorantim, as empresas familiares hoje hesitam muito mais para contratar seus agregados. Essa atitude representa uma prevenção contra possíveis problemas futuros, como:

•    Divórcio: Os índices de divórcios hoje estão elevados e por isso uma possível separação deve ser sempre cogitada. Ela pode causar um mal estar geral na empresa e o agregado passar uma má impressão do negócio familiar para os sucessores. Nunca esqueça que os agregados serão os pais da próxima geração;

•    Mal estar do próprio agregado: O agregado contratado, ao longo de seu dia a dia na empresa, pode passar a sentir pressão por parte dos outros membros familiares. Estes podem desconfiar de quais são suas reais intenções dentro da empresa, vigiando e examinando-o constantemente;

•    Mal estar do próprio agregado II: Outro mal estar que o agregado pode sentir é em relação aos empregados não familiares da empresa os quais podem pensar que o ingresso do agregado se deve mais a sua condição dentro da família do que seu próprio valor profissional e pessoal;

•    Agregado em cargo importante: Na maioria dos casos de inclusão de um agregado na empresa familiar, o profissional já é muito experiente e por isso é colocado em um cargo de alta responsabilidade. Isso também pode causar ciúmes ou inveja por parte de outros membros familiares com funções de menos importância.
A contratação hoje de um agregado é polêmica, já que pode trazer tantos problemas futuros como os pontuados acima. A empresa deve ter certeza de que precisa de uma pessoa com aquele perfil e características e essa pessoa deve ser um profissional experiente e competente. A necessidade precisa ser da empresa e não do agregado.

Se a escolha for contratar agregados, é conveniente incorporá-los também nos valores da família, fazer com que eles conheçam os objetivos e história da empresa, mantê-los informados e ter sempre atualizadas suas opiniões sobre o andamento da empresa.

O processo de contratação de um agregado deve ser tão profissional como de qualquer outro candidato. O RH da empresa deve cuidar disso, mas inicialmente o agregado deve ser entrevistado por vários executivos, da família ou não, além de mais um membro familiar que trabalhe na empresa. Além disso, a comunicação deve ser clara e direta: com as expectativas alinhadas de ambos os lados, tanto a empresa como o agregado, saberão o que esperar um do outro.

Um problema mais delicado que aparece depois da contratação de um agregado é a sua possível participação na propriedade da empresa, como acionista. Depois de anos trabalhando na companhia, o agregado, sentindo-se da família, pode surgir com essa proposta. Hoje em dia, o indicado para as empresas familiares é nunca dividir as ações da empresa com agregados. Eles podem até representar um alto de grau de confiança, mas como foi dito no início, hoje podem ser da família e amanhã não mais.

A escolha do agregado para cargos na empresa da família é uma experiência arriscada já que pode significar uma experiência negativa tanto para a família como para a empresa, mas também pode representar o renascimento dos negócios da família, como no caso da Droga Raia. Não há fórmula que acerte com exatidão o que é mais correto fazer, mas levar em conta apenas as demandas da empresa é um caminho consciente para se seguir.