É possível preservar o patrimônio sem destruir os laços afetivos?

Por Carla Bottino

Esse título me acompanhou por muito tempo, foi tema de palestras e chegou a ser, mesmo que por poucos meses, o título da minha tese de doutorado. Na verdade estava mais para título de novela, de romance do que para trabalho acadêmico, mas deu muito o que falar! Entretanto, percebi que as pessoas esperavam um Não como resposta e como acredito que realmente seja possível, dei um outro nome à minha pesquisa.

Podemos pensar na empresa familiar como uma balança em que em um dos pratos temos a família que tem a empresa e no outro a empresa onde trabalham membros da família,e se a tendência é o prato pesar sempre para um dos lados, o negócio pode não ser bem sucedido.

Evidentemente que em um momento de dificuldades na empresa – por exemplo, a perda de um importante cliente, ou a mudança de determinada legislação (que traga impacto para o negócio), a família pode ficar muito mais voltada para a empresa; da mesma forma que em um momento difícil na família como, por exemplo, a morte de um parente, a tendência é que as pessoas estejam muito mais envolvidas com a família.

Esse movimento – quase como uma gangorra – que em um momento é a família que está em evidência, em outro é a empresa, não é negativo, pelo contrário, é muito natural. Talvez a melhor metáfora seja a do pêndulo em que ora pende mais para um lado, ora pende mais para o outro, mas o importante é que se encontre um equilíbrio, equilíbrio esse que vai variar em cada família, e cada negócio, não existe um modelo único.

Mas, se existe uma fórmula mágica para que o negócio entre familiares prospere é ter em mente que quando a família está à serviço da empresa e não a empresa à serviço da família, a empresa familiar pode ser um excelente negócio para todos os envolvidos

Várias histórias de brigas na família

A grande maioria das pessoas acredita que NÃO seja possível preservar o patrimônio familiar sem destruir os laços afetivos, pois muitas histórias de brigas na família vieram à tona.

De fato, todo mudo tem uma história para contar. A mídia nacional também já noticiou algumas brigas de família que acabaram levando empresas à falência, mas por que isso acontece com tanta freqüência? O que faz com que as pessoas briguem com os seus familiares?

Geralmente as brigas e rompimentos acontecem a partir da 2ª geração dos dirigentes, ou seja, quando os filhos do fundador são os responsáveis pelo negócio … Agora, várias pessoas são os “donos do negócio” e nem sempre é fácil tomar uma decisão que seja do agrado de todos. Provavelmente, nos trabalhos em equipe – e uma empresa com vários sócios com igual participação pode ser comparada a uma equipe – nem todos pensam da mesma forma e para que se chegue a uma decisão é importante que, mesmo quem pensa diferente, diga “ok, acho que posso conviver com essa decisão” ou “Não penso dessa forma, mas vocês trouxeram argumentos tão coerentes que posso aceitar essa decisão!”

Entretanto, muitas vezes, apoiar a decisão de alguém pode significar preferir essa ou aquela pessoa e, a velha rivalidade fraterna, conhecida por todos, surge de forma inconsciente (sem que os membros da família percebam) e ela pode minar o relacionamento entre irmãos e, prejudicar a produtividade da empresa.

Quando pai e filhos trabalham juntos pode acontecer ( e acontece com muita freqüência) dos filhos terem opiniões divergentes mas quem decide é o pai, o dono do negócio ou porque é ele quem manda, ou em respeito ao patriarca da família ou para evitar os tais desentendimentos na família.

Outro desencadeador de sérias brigas entre familiares é perceber que a empresa tinha condições de manter o padrão financeiro da família e, de uma hora para outra isso não é possível, até porque, o fato das contas não fecharem traz uma grande desconfiança … “Provavelmente tem alguém roubando!”

Se pensarmos em uma família em que os pais têm uma empresa e eles tiveram 3 filhos que também foram trabalhar na empresa. Com o tempo, esses filhos casam, cada um constrói a sua família, e a empresa que sustentava uma família com 5 pessoas, agora é a responsável pelo sustento de quatro família – a família do fundador e a família de cada um dos três filhos. Mesmo que o país cresça, que os negócios prosperem e que essa empresa seja bastante competitiva, a família cresce em progressão geométrica, ou seja, em um ritmo muito mais acelerado.

Esses dois talvez sejam os motivos mais comuns seguidos ainda pela falta de diálogo que pode causar uma série de dificuldades relacionais.