Profissionalização da gestão

Dica importante: “Não evite conversas difíceis”

Muitas situações de estresse são causadas porque as pessoas evitam alguns temas importantes. E, muitos dos problemas de relacionamento são causados por dificuldades de comunicação.

Por exemplo, quando a pessoa evita uma conversa, ou um tema delicado, ela comunica que não quer falar sobre aquilo. A comunicação franca, clara e transparente é muito importante em todos os relacionamentos humanos e nas empresas familiares, é fundamental que os membros da família falem sobre seus desejos, suas aspirações e objetivos e, também sobre as expectativas que os pais têm para os seus filhos.

Quando as expectativas são diferentes, as conversas se tornam ainda mais necessárias, pois elas são capazes de:
(i) reduzir os conflitos entre os membros da família,
(ii) promover uma maior cooperação entre sêniores e juniores (pais e filhos) que vão trabalhar juntos pelo alcance de um objetivo comum; e
(iii) criar uma harmonia entre tradição e inovação, sobretudo, quando e se os propósitos, interesses e ideais das diferentes gerações estiverem alinhados.

No trabalho com gerações diferentes (pais e filhos) e /ou com pares (no caso de casais ou irmãos) que trabalham juntos, pode haver a polarização do tema e das ideias.

 

 

A  figura mostra que “quando um está certo o outro não está necessariamente errado”. Conversar sobre pontos de vistas diferentes pode apresentar uma nova solução que satisfaça às partes envolvidas.

A maior parte do meu trabalho com as famílias tem sido como facilitadora das conversas difíceis com o objetivo de descobrir ou construir o sonho compartilhado pela família.

Se você estiver evitando um tema difícil e quiser trocar uma ideia comigo, envie um email. Muitas vezes, a solução é bem mais simples do que você imagina.

Pró-labore, salário, mesada, distribuição de lucros e a confusão entre contribuição e compensação nas empresas familiares.

Por Carla Bottino

Pró labore não é distribuição dos lucros

Pró-labore é a retribuição recebida pelo sócio de uma empresa pelo trabalho por ele prestado. O valor do pró-labore deve ser definido de acordo com o salário médio pago pelo mercado aos profissionais que desempenham a mesma função e, de acordo com a capacidade financeira da empresa.

Alguns empresários trabalham, trabalham e não sabem qual é o seu pró-labore; alguns chegam a dizer que só contribuem com a empresa mas não são devidamente compensados. Talvez isso aconteça, mas sugiro que essas pessoas pensem bem e comecem a anotar todas as despesas pessoais que são pagas pela empresa – as contas de casa, a escola das crianças, o carro da família, a gasolina para a viagem de férias pelo litoral entre outras coisas.

Tenho visto empresas que davam conta dos gastos de uma família, depois, os filhos entraram na empresa e agora a empresa precisa dar conta de 3 famílias –  a família do fundador e a família que cada um dos filhos que foi trabalhar na empresa. Provavelmente as contas não batem e, com essa prática, as famílias estão, pouco a pouco, descapitalizando as empresas que podem sofrer com uma possível falta de capital de giro.

 

Salário não é mesada!

Independente de ter ou não a qualificação necessária para trabalhar na empresa da família muitos dos herdeiros tendem a entrar na empresa do pai (ou da mãe). As razões são as mais variadas … o mercado de trabalho está muito concorrido, o que o mercado paga não é um salário digno para manter meu padrão de vida, meus pais estão precisando de ajuda, já que investiram tanto na minha educação que devo isso a eles e etc.

As motivações para entrada da geração mais nova na empresa podem ser várias, entretanto, uma coisa deve ficar clara desde o início – salário não é mesada! O pai pode combinar o valor que quiser (e puder) para a mesada do seu filho, mas o salário dele deve estar de acordo com o salário de mercado ou com o salário pago pela empresa, pois uma discrepância entre contribuição e compensação (remuneração) pode causar um grande desconforto entre os outros funcionários da empresa, que não tiveram a sorte de fazer parte da família.

Os funcionários que não são membro da família, mas trabalham na empresa de uma família podem se sentir ameaçados, desprestigiados e desvalorizados pelo excesso de benefícios que os familiares recebem. Como vivemos em uma época em que os bons funcionários são responsáveis pela competitividade das empresas, devemos ter muito cuidado com aqueles que estão trabalhando e vestindo a camisa da nossa empresa.

 

Modelo tridimensional de análise e compreensão das empresas familiares

Por Carla Bottino

No início da década de 1980, dois autores americanos de Harvard – Tagiuri e Davis – elaboraram o modelo de dois sistemas para análise e entendimento das empresas familiares. Para eles, entretanto, ainda era necessário fazer uma distinção crítica entre os subsistemas de propriedade e de gerenciamento dentro da empresa – algumas pessoas são proprietárias, mas não estão envolvidas na operacionalização da empresa; outras são gerentes, mas não controlam ações. No final dos anos 80, publicaram o modelo de três círculos (sistemas) da empresa familiar (Gersick e cols, 1997).

O modelo de três círculos descreve o sistema da empresa familiar como três subsistemas independentes, mas superpostos: gestão, propriedade e família. Assim, todos os proprietários (sócios e acionistas) estarão no sistema propriedade. Todos os membros da família estarão no sistema família e todos os funcionários no sistema gestão/empresa. As pessoas com mais de uma conexão com a empresa estarão em um dos setores sobrepostos, que caem dentro de dois ou três círculos ao mesmo tempo. Por exemplo, o proprietário que também é membro da família, mas não trabalha na empresa estará num lugar diferente do proprietário que não é membro da família e trabalha na empresa.

Modelo de 3 Círculos
Subdivide o Sistema Empresa em Gestão, Propriedade e Família

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É uma ferramenta muito útil para a compreensão da fonte de conflitos interpessoais, dilemas de papéis, prioridades e limites em empresas familiares. A especificação de papéis e subsistemas diferentes ajuda a derrubar as complexas interações dentro de uma empresa familiar e facilita verificar o que está, de fato acontecendo e porquê. (…) o modelo de três círculos ajuda todos a ver como o papel organizacional pode influenciar o ponto de vista de uma pessoa; os conflitos de personalidade não são a única explicação. (Gersick e cols, 1997, pp. 7-8)

Os sistemas da gestão, dos proprietários e da família podem criar um quadro de qualquer sistema de empresa familiar em determinado momento, o que pode ser um primeiro passo de grande importância para a compreensão da empresa. Entretanto, muitos dos dilemas enfrentados pelas empresas familiares são causados pela passagem do tempo. Os pais envelhecem, os filhos se casam, nascem os netos e essas pessoas se juntam ao negócio e a empresa muda. Ao longo do tempo ocorrem mudanças – lentas e constantes – na natureza da família e o mesmo ocorre com a empresa. No início, a organização é simples e pequena, porém, com o tempo, se torna mais complexa. Em alguns, inclusive, pode parar de crescer e até desaparecer.

A estrutura da propriedade também se modifica. Geralmente, a empresa começa com um único dono, um único proprietário; mais tarde, a propriedade se transfere a seus filhos e em 3 ou 4 gerações, a propriedade passa para os primos.

Por tudo isso, acrescentou-se o tempo ao modelo dos 3 círculos, originando assim o modelo tridimensional do desenvolvimento das empresas familiares.
Modelo Tridimensional do Desenvolvimento das Empresas Familiares

Para cada um dos três subsistemas – propriedade, família, gestão/empresa – existe uma dimensão separada de desenvolvimento. Cada parte muda em seu ritmo próprio e de acordo com a sua seqüência, e isso se define como o modelo tridimensional de desenvolvimento da empresa familiar. Sobre a propriedade podemos dizer que existem três etapas básicas – proprietário controlador, sociedade entre irmão e consórcio de primos. Sobre a família, são quatro as principais etapas – jovem família empresária, entrada na empresa, trabalho conjunto, passagem do bastão. Sobre a empresa, são três as etapas básicas – início do negócio, expansão/ formalização e maturidade.

Modelo Tridimensional de Desenvolvimento

(Década de 80)

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Os três eixos se interarticulam produzindo distintas composições e complexizando o produto destas interações.